sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

UMA CRÔNICA DE NATAL...


UMA CRÔNICA DE NATAL...

José Carlos Ramires
Colaborador
Natal 2011
23/12

Uma crônica de Natal... O que devo escrever sobre um dos maiores eventos de comemoração da humanidade, junto do Ano Novo, seu primo-irmão das Festas de Fim de Ano, para agradecimentos pelo ano findo e desejos de bons augúrios do ano que surge? O que deveria escrever? E que dizer do Natal, o aniversário de Jesus, o Messias?
Pensei em definir o que seria o Natal... Natal, substantivo, relativo a nascimento, natalício. Como adjetivo seria o local do nascimento de alguém ou de algo... Mas que importância estas definições teriam? Para mim, e creio que para muitos, Natal é, e nunca deixou de ser uma grande festividade em comemoração ao nascimento de um menino, numa pequena manjedoura e que marcaria para sempre a história dos homens e da humanidade.
            Nasce em Belém na Palestina, entre os anos 8-4 a.C, Aquele que mais tarde seria conhecido por Jesus Cristo, de Christós, uma palavra grega, significando “O Ungido”, segundo orientação dogmática da Igreja Católica. Entre os anos 26-29 d.C é condenado pelos homens de então, e “morto” por crucifixão.
Segundo a língua então falada por Jesus em seu tempo, seria Ele conhecido por Yeoshua Ben Yosef, que significa: Jesus, Filho de José, como era o costume da época.
            Para os muçulmanos Jesus foi um grande profeta e era, na língua árabe, e ainda é, conhecido por “Isa ibn Maryam”, Jesus, filho de Maria.
            Jesus, como enviado de Deus (Yaveh), seria o Messias (Salvador), aquele que resgataria a dignidade dos Judeus, libertando seu povo do jugo implacável dos invasores romanos na Palestina... A sua vida e seus ensinamentos, mudaria o curso da história e o rumo das crenças e da fé, surgindo-se por criação dos homens, uma das maiores Igrejas do mundo, a hoje conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana, por orientação e inspiração de São Paulo Apóstolo. Outras Igrejas surgem, dos mais variados nomes e todas, invariavelmente, focadas e centradas nos ensinamentos de Jesus.
            Mas, ainda me pergunto: que fundamentos, que ensinamentos, ou o que escreveria como conseqüência e como júbilo pelo nascimento deste homem enviado por Deus aos homens da terra? E aos homens de Boa Vontade? O que poderíamos dizer?
            Estamos vivendo uma época de tragédias, de desesperanças para muitos, de fome, de guerras, por conta e obra da desarmonia, da ambição, do egoísmo e desarranjos dos homens. E então, como ficamos? Deixamos assim? Ainda resta muito do que podemos realizar. Mas, com três virtudes não podemos abandonar: a Fé, a Esperança e a Caridade, este tripé mágico deixado como ensinamento pelo nosso Mestre dos Mestres.
            A Fé, uma virtude das mais enigmáticas e místicas que podemos ter. A Fé que acredita, que espera, que busca, sempre e sempre algo, ou um objetivo, uma meta... A Fé que move obstáculos. Uma Fé, calcada na Esperança... Diante de tantas injustiças e iniquidades, o que podemos esperar? Existe esperança para o mundo e para os homens? E existe para cada um de nós?... Tudo começa então com esta resposta: sim, e é para cada um de nós que ela existe!
Cada um de nós, cada ser – como único que é – mesmo com nossas crises, deve buscar esta Esperança escondida em seu íntimo, em seu coração e em sua mente. E onde estaria esta Esperança de um mundo melhor? A esperança estaria na política, na religião, na educação, na ciência, na tecnologia, na criatividade? Não, entendo que a Esperança não está nestas coisas. A Esperança se encontra dentro de nós, em nossa mente, em nossa alma, em nossos corações, nas nossas mudanças de atitudes, de hábitos, na busca incessante do crescimento interior através da Paz tranqüilizante e restauradora.
Com esta Fé, com a Esperança de mudanças para dias melhores, através da Paz Interior, propiciada pelo Crescimento Espiritual, seremos convocados para atitudes de amor, calcadas que são na Caridade... Uma Caridade gratuita, não engessada por vaidades. A Caridade que vem do íntimo de cada um... A Esperança estaria então na Caridade... Esta virtude advinda do amor, um amor sem definição, um amor sem preconceito, um amor pacificador.
O que move o homem? Senão a Esperança, esta força construtora, criativa e sustentadora da Vida...
Neste dia 25 do último mês de cada ano, não nos interessa agora os motivos, mas neste dia comemora-se o Natal de Jesus, o natalício de Jesus, e com ele, e com todas as festividades associadas, rendemos graças e comemoramos o aniversário de Jesus. Nesta data, Ele completa 2.010 anos de vida plena, como filho de Deus e enviado por Deus, para a Salvação dos homens, dos homens de Boa Vontade...
E assim este dia, rendendo-se aos costumes mais antigos, quando se guardava alimentos e conservas de todos os tipos, para o longo inverno que no hemisfério norte se anunciava, transforma-se em todo o mundo cristão em momentos de reflexão e de comemoração em família, com trocas de presentes, brindes, abraços e agradecimentos.
E com a figura do Papai Noel, uma criação dos homens, surge esta lenda do bom velhinho, mas que para as crianças, uma verdadeira realidade se torna. A de que o Papai Noel do Céu, o pai de todas as criancinhas, vem até nós, e para os pequenos, uma esperança em realidade se transformar. Este é o espírito de Natal: uma força energizante que transforma os homens, que alegra as crianças; uma força balsamizante que aplaca as desavenças; uma força reveladora que reanima e reaproxima as pessoas em torno de um personagem verdadeiramente presente. Aquele que numa noite fria de inverno, numa cidadezinha por nome Belém, numa manjedoura simples, rodeado por seus pais, José e Maria, junto a grandes e pequenos animais, e na presença de três misteriosos Reis, trazem presentes e deste modo todos nós ansiamos por esperança de uma nova vida, de uma nova Luz para aclarar os caminhos e alumiar as mentes de todos os homens de Bem e de Fé, de Fé na Esperança, e com esta Esperança, a força de um Amor pleno de Caridade...
Um Feliz Natal a todos... E que a Fé, a Esperança e a Caridade estejam em vossos corações... Busquem a Felicidade, pois que com ela, Boa Sorte você terá, e assim a Paz presente se fará...


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

UMA CRÔNICA ANTIGA DO DR. JORGE WASHINGTON DE OLIVAES...


Uma tragédia que não vem nos jornais...

Proêmio
Este texto é resultado de uma transcrição de um artigo publicado no jornal “O Oeste Paulista” da cidade de Santo Anastácio, SP, no 9º aniversário de fundação do semanário, em 23 de março de 1940 e de autoria do Dr. Jorge Washington de Olivaes, médico.
Por uma acaso do destino esta publicação cai em minhas mãos por intermédio do amigo Lázaro da Silva, o Lazinho, quando pude transcrever este texto, na verdade uma crônica, uma crônica dos costumes da época. Uma época difícil, muito difícil para as mulheres...
José Carlos Ramires
14/12/2011

Dr. Jorge Washington de Olivaes
Médico

            Vamos tratar de um assunto delicado, e pedimos aos nossos possíveis leitores que não julguem mal de nossas intenções, porque elas são as mais honestas que se possa imaginar. Não pretendemos fazer sátiras com assunto que muito nos tem preocupado como médico e como cidadão.
            Trata-se do celibato feminino e da posição da mulher solteira na sociedade. É questão seríssima e muito delicada, que deve merecer de nós todos uma atenção muito especial.
            Esta questão requer muitas medidas para a sua solução. A primeira seria uma campanha educativa para que a mulher tivesse o mesmo respeito, o mesmo carinho, quer fosse casada ou solteira. Mas, o que vemos? Por defeito de educação, o povo ridiculariza sem piedade aquelas que ficaram sem casar. O povo só, não. Espíritos eminentes, escritores de vulto, como Machado de Assis e Jorge Amado, para citar somente um grande nome do passado e outro grande nome do presente, satirizam as mulheres que se convencionou chamar de – Solteironas. Apelidos grosseiros e impiedosos estigmatizam-nas, como se casar fosse o único destino da mulher, e como se elas tivessem a culpa inteira de não cumprirem esse destino.
            Quantas delas amaram, quantas delas entregaram seus cândidos corações, quantas delas não depositaram em um homem sua esperança e seu afeto, e o homem objeto de sua afeição ou as repeliram, ou as enganaram, ou (o que é peor[1]) nunca adivinharam que eram por elas amado?
            A educação, o costume, e nossa civilização impedem ainda que a mulher declare seu amor a um homem, e teremos ainda dois séculos, caso isso seja permitido, mas por enquanto a mulher que tiver a audácia de declarar seu amor a um homem será lapidada[2] e a primeira pedra será atirada por aquele que receber a declaração de amor...
            Quantos casamentos não geraram por esta causa? Muitas vezes dois entes se amam em segredo, e passam pela vida, afastados, como dois indiferentes, porque ignoram o sentimento um do outro, e têm medo ou timidez de provocar uma expansão que poderá ser uma alegria inaudita, mas que poderá ser também uma desilusão amaríssima[3]...  É o dilema cruel do apaixonado: “Devo declarar meu amor? Serei aceito, ou repelido?”. E enquanto hesita, outro mais audacioso adianta-se e obtem a posse daquela que o tímido ama. E a ironia do destino é pungente[4] quando a jovem preferiria aquele que a desejava, mas não se declarou, e aceitou o segundo porque pensou que o primeiro não se declarara, porque não a amava... Isto como os homens avaliem-se com as mulheres que não têm o “direito” de declaração amorosa.
            Esta iniciativa na escolha, explica a porcentagem maior de celibato feminino. Daí também deriva a fatuidade[5] de muitos homens (a maioria) que se julgam por esse motivo, superior, infinitamente superior à mulher, seu soberano, seu senhor. A situação da mulher melhorou muito, se cotejarmos a atual com a do passado, mas ainda não está no nível em que deveria estar. E se obtiveram a atual posição foi à custa de sacrifícios ingentes[6], lutas tremendas, combates épicos contra a tacanhez, a mesquinharia, o despotismo dos que veem na mulher apenas um instrumento de prazer ou u´a máquina de trabalhar e procrear[7]. Hoje mesmo, que a evolução é grande, vemos, a cada passo, os sofrimentos, os martírios que sofrem as que procuram avançar mais um passo na trilha arduamente percorrida.
            Vemos mesmo na sociedade o paradoxo infame de se tolerar a adúltera casada, repelir formalmente a pecadora que não se case e ridicularizar ferozmente a celibatária!
Confiamos plenamente no alto espírito do exmo. Sr. Getulio Vargas e no coração generoso de sua digníssima esposa Sra. Darcy Vargas para que a mulher seja amparada como mulher-mãe, mulher-esposa, mulher-filha, mas, sobretudo como MULHER.   
            Parta de nosso Brasil, que tem uma legislação social das mais adiantadas e dignas do mundo, a campanha pela mulher.
            Amparemos e defendamos a família, mas também não lapidemos com o nosso desprezo as que amam sem o amparo da lei. Não defendemos o amor livre. Desejamos apenas que os pares amorosos que, por motivo de força maior, não puderam passar pela pretoria[8], não sejam tratados como indesejáveis.
            Quanto àquelas que fazem do amor uma profissão, tratar-se-ia de pesquisar todas as causas que levaram essas infelizes à triste condição de gado humano para remove-las, e se adaptar essas esquecidas da sorte, novamente, ao meio social. Aquelas que persistissem em continuar a chafurdar no lodo onde pululam, as vênus tarifadas, seriam passíveis de medidas de profilaxia social.
            As que amam verdadeiramente, as que conhecem a sublimidade do amor, mas que, por causas irremovíveis, não são casadas legalmente com o homem que amam e com o qual cohabitam[9] como se casadas fossem, a essas por que não respeitá-las, por que não lhes oferecer a nossa amizade, e o nosso apoio?
            Nossa esposa e nós, conhecemos uma criatura excepcional – mulher de raras virtudes, jovem, formosa, inteligente e culta, de coração boníssimo e alma aberta a todos os sentimentos generosos, enfim, uma pessôa[10] cujas altas e raras qualidades de espírito, de caráter e de coração só podem inspirar admiração sincera e amizade leal. E essa pessôa[11] admirável, amiga certa de todos os momentos incertos, por motivos que se devem respeitar, não tem perfeitamente legalizada sua situação amorosa.
            Felizmente já temos no Brasil cidades como São Paulo e Rio onde essas situações são compreendidas, mercê do alto grau de educação de seus habitantes. Mas vivesse ela em meio pequeno seria uma réproba[12], de todos seria repelida, embora estivesse em plano moral, intelectual e cultural acima de qualquer de seus habitantes. Um verdadeiro absurdo, pois.
            Sempre tivemos a sorte de encontrar mulheres que fazem da vida alguma coisa de grandioso e de belo, estando à frente dessas, nossa esposa e nossa mãe, cujo casamento foram 37 anos de ventura que só a morte desmanchou. Por isto somos defensores acérrimos de todas as mulheres e nos revoltamos contra a situação que cerca ainda hoje a mulher que não se casa.
            Que culpa têm elas disso? Nenhuma. Queriam, por acaso, que elas pegassem no primeiro que passasse e o levassem ao juiz de casamentos? Isto não é permitido pelo uso, e mesmo que fosse não seria aconselhável, porque a um mau casamento, é mil vezes preferível não casar.
Por que motivo o solteirão, que não deixa de ser um entre pernicioso à sociedade, porquanto sua fisiologia o impele à ignomínia do amor vendido, não é traçado[13] ou siquer[14] censurado, enquanto procura-se cobrir de ridícula aquela que não se casou? É uma injustiça que vemos a obrigação de sanar, favorecendo o casamento e respeitando aquelas que não puderam ou não quizeram[15] casar-se.
            Para esse auxílio ao casamento, várias providências seriam louváveis, como a preferência dos casados nos empregos públicos ou particulares, descontos em impostos e taxas, em meio de locomoção, etc., enfim, regalias econômicas que facilitassem e favorecessem o matrimônio.
            Para finalizar, desejaríamos dar às mulheres, sobretudo àquelas que moram em cidades pequenas, onde o padrão de ganho é pequeno, alguns conselhos. Nada de “grã-finismos”[16] nem luxos exagerados. A elegância e a beleza podem estar presentes sem que sejam necessários luxos nem exageros. As “grã-finas”, nessas cidades pequenas (que são 85% das cidades brasileiras), podem ter namorados, “flirts”[17], etc.. Mas na hora de pensar em casamento, na época atormentada e aflita que o mundo está passando, o rapaz que deseja se casar pergunta logo a si próprio se poderá sustentar o luxo e o “grã-finismo” que a senhorita ostenta, muitas vezes com sacrifícios heróicos das bolsas dos papais. Estes, que muito humanamente desejam o matrimônio de suas descendentes, não medem despesa quando se trata de qualquer luxo, que na sua opinião e da própria filha (opinião, a nosso ver errada), venha a facilitar um casamento. Mas é um erro, porque a ostentação do luxo nada mais faz do que afastar o rapaz. Eis aí a razão porque vemos mulheres formosas e amigas do luxo ainda solteiras, não obstante terem tido tempo de sobra de ter casado (como logicamente desejavam), enquanto outras menos formosas e menos encantadoras acham logo casamento.
            Se alguem precisar de algum esclarecimento nosso a respeito das razões que aqui debatemos, com a superficialidade que o minguado espaço de um jornal permite, estamos dispostos a atendê-lo por carta ou pessoalmente. O campo é vastíssimo e fascinante, mas a prosa já vai muito longa...

Posfácio

Uma homenagem singela aos bons e velhos tempos dos idos de 1940, quando critérios e valores morais e éticos eram diferentes, e às vezes injustos e ultrajantes, como no caso das “solteironas”, nesta crônica inteligente, ricamente argumentada e até mesmo com um pé à frente no tempo, ao encarar esta particularidade anacrônica que existia na época.
O enfoque do digníssimo médico Dr. Jorge Washington de Olivaes foi de um arrojo e de uma visão futurística acerca dos Direitos Fundamentais da Pessoa e em especial dos Direitos da Mulher...

Dr. Jorge foi médico em nossa cidade durante alguns anos, pelo menos de 1937 em diante. O seu registro no Conselho Regional de Medicina, foi o de CRM-BA 3989. Em 1945 foi prefeito nomeado na cidade de Irapuã, estado de São Paulo. Foi redator no jornal “O Oeste Paulista” de 18 de abril de 1937 a 5 de junho de 1938. Foi um dos fundadores do famoso “Nosso Clube” de Santo Anastácio, um clube de entretenimento e de danças, onde a sociedade desenvolvia os seus dotes dançantes e propiciava encontros de jovens, onde muitas moçoilas encontraram o seu príncipe encantado. Fez parte da primeira diretoria do Nosso Clube, sendo seu 2º secretário.

Parabéns a este senhor, que certamente entre nós não se encontra, mas que nos corações de seus familiares sempre lembrado será, e se por acaso, algum descendente aparecer, muito feliz ficaria pelo pronto contato com este que vos escreve...

José Carlos Ramires
jc_ramires@yahoo.com.br

Santo Anastácio, 13 de dezembro de 2011, com 20.196 dias da data da publicação desta crônica no jornal “O Oeste Paulista”, no dia 23 de março de 1940, no 9º ano de fundação – edição 453, ano X.


[1] Na ortografia atual, pior...
[2] Que se apedrejou, maltratou...
[3] Extremamente amarga; amarguíssima...
[4] Que afeta e/ou impressiona profundamente o ânimo, os sentimentos, as paixões; muito comovente

[5] presunção, vaidade
[6] muito grande, enorme, desmedido
[7] Hoje o correto seria “procriar”
[8] Cargo que administra a justiça na jurisdição (neste contexto querendo se referir ao Cartório de Paz, que na época registravam os casamentos civis).
[9] Hoje se escreve: coabitam
[10] Pela ortografia atual, escreve-se: pessoa.
[11] Idem
[12] que ou aquele que foi banido da sociedade; malvado, detestado, infame
[13] Notificado
[14] O correto hoje: se quer
[15] Na ortografia atual: quiseram
[16] Qualidade de quem vive uma vida de luxo.
[17] Flerte – relação amorosa leve e inconsequente.

sábado, 3 de dezembro de 2011

A inglória saga de Marcos Mariano da Silva...


Um “da” que decidiu o curso de uma Vida...

José Carlos Ramires
Colaborador
30/11/2011

O Mecânico Marcos Mariano da Silva, um pernambucano sofredor... Um injustiçado, condenado pela Justiça, sem ter tido culpa de nada... Tudo por causa de um “da”...

Em 1979 Marcos Mariano da Silva é preso por suposto assassinato. Foi preso e encaminhado ao presídio Aníbal Bruno em Recife, PE. Ficou seis anos preso, sem ser julgado e somente solto depois da prisão do verdadeiro assassino, também Marcos Mariano, porém, sem a partícula “da”, somente Marcos Mariano Silva. Duas letras separaram os dois Marcos Marianos: da Silva, preso injustamente e o verdadeiro, o Silva, preso depois... Esta é a nossa Justiça e nosso Sistema Carcerário, onde os pré-julgamentos e preconceitos são muito mais valorados.
Marcos Mariano da Silva, como homem íntegro e de bom coração, aceita as desculpas da Justiça, e em 1985 é libertado. Segue sua vida, depois de muito perder... E não exigiu reparação... Comprou a prazo um caminhão usado e passou a transportar fumo em Arapiraca, estado das Alagoas. Trabalhou algum tempo tentando se restabelecer nos negócios.
Por uma dessas ironias do destino, a Polícia Rodoviária Alagoana, em uma operação de controle de tráfego, ele é parado, detido, avaliado, pesquisado, e depois de três anos... preso! Novamente preso e enviado de volta ao presídio Albano Franco em Recife. Motivo, uma ordem de prisão emitida pelo presídio por infringir uma “suposta liberdade condicional”, quando na verdade, nem detento era, uma vez que nem julgado fora. Foi somente liberado, porque o verdadeiro Marcos Mariano, o Silva, foi preso como réu confesso de assassinato. Mais um erro, agora triplo: da Polícia Rodoviária, do Sistema Prisional e da própria Justiça, que insiste em não ser precisa em suas avaliações e conclusões, seguindo simplesmente a fria escrita da lei, não pensando, e não se importando em nada e nem pedindo uma reavaliação de um caso, que da primeira vez teve até desculpa do Governo de Pernambuco. Mas disto nada importa. Importa mais, a letra fria da lei, para os mais pobres, os simples e menos expertos. E para os mais ricos e mais expertos, melhores advogados, e melhores beneplácitos da lei... Parece-nos que a Lei não seja cega nestes casos, e faça até alguma distinção de raça e de condição econômica...
Da Silva passou mais de 13 anos detido, tentando explicar o inexplicável. E de provar o impossível. De que Marcos Mariano da Silva não era o Marcos Mariano Silva, o verdadeiro. E os nomes das mães não importam? As datas de nascimento não importam? Os documentos de identidade não importam? Os números de CPF não importam? Que tipo de identificação se usa nestes documentos da Justiça? E nos processos? Não existem fotos? Como é que se pode provar algo que não se tem com que provar? 
Um ano e oito meses após a segunda prisão, da Silva, durante uma rebelião no presídio, foi atingido por estilhaços de bombas de efeito moral e ficou cego. O efeito moral transforma-se em efeito físico que o conduz a uma escuridão ainda mais tenebrosa, pois que agora, um detento, presumidamente tornado assassino, torna-se um cego, mas que nunca cego de ódio se tornou. Aguentou todas as agruras da vida carcerária, até que num dia qualquer de 1998, seu caso foi detectado durante um mutirão judicial de reavaliação de processos, identificando-se assim uma das maiores e mais contundentes iniqüidades. Um dos maiores erros judiciais jamais cometidos neste Brasil. Nunca neste Brasil houve tão grande injustiça... E se não fosse este Mutirão? Quantos mutirões hão de se fazer para sanar injustiças como esta? Mutirões de Limpeza para eliminação dos políticos Fichas-Sujas. Mutirões de melhoria no ensino. Mutirões na Saúde. Varrições de Limpeza no Congresso Nacional, em suas duas Casas, cujos membros se acham proprietários e dela fazem o que querem e as conspurcam... Um Mutirão de Cidadania deve ser prevalecido, diante de toda e qualquer iniquidade, seja de que tipo for...

Já em liberdade, Da Silva decide cobrar na Justiça a devida reparação no valor de seis milhões de reais. Em 2003 ganha em primeira instância, ficando, porém a indenização, fixada em R$356.000,00. Recorreu da sentença. O Estado também...
Em 2005 o Tribunal de Justiça Estadual (PE) manteve a decisão e aumentou a indenização para R$2.000.000,00 (dois milhões de reais). O governo do estado voltou a recorrer. Mas em 03 de maio de 2006 o Governo de Pernambuco sanciona uma lei que lhe concede o direito de receber uma pensão mensal no valor de R$1.200,00, até que o Superior Tribunal de Justiça de Pernambuco defina o valor.
Em 2009 recebe 3,7 milhões do estado, de cujo montante boa parte foi distribuída entre os familiares. O restante do valor que ficou para discussão, diz referência a um valor de dois milhões, relativos a encargos e juros desde a primeira decisão até o dia em que sair o resultado da demanda do recurso, que aconteceu no dia 22 de novembro próximo passado.
Neste mesmo dia, recebe a notícia por telefone e comunica à sua esposa. Depois de uma conversa rápida, diz que vai deitar um pouco para descansar... Daí em diante não mais acorda e entra em descanso eterno, no eterno sono dos justos, junto aos mais eleitos e num lugar mais elevado e mais espiritualizado...

Da Silva não ficou nem mais e nem menos feliz, ficou em Paz... Já quanto aos culpados, uma Justiça maior decidirá... Quem tem Fé, acredita. Quem não a tem, duvida e não acredita... E quem assim pensa, também Esperança não tem... E sem Esperança não há plenitude no viver e fica toda a vida, sem viver...

E o Marcos Mariano Da Silva, como Mariano, de Maria nossa Santa Mãe, junto a Deus encontrará seu cantinho especial no infinito espaço Cósmico da morada divina. E com o “Da”, com D já maiúsculo, ficará para sempre marcado nos anais da história e em nossas mentes... O Da Silva, condenado em lugar do Silva, o verdadeiro...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Perfil do Corrupto... por Frei Betto

Uma Crônica do Frei Betto...

Neste texto do Frei Betto, publicado na Folha de S. Paulo em 15/11/2011, ele comenta e traça um perfil do corrupto, que descreve com sabedoria e muita criatividade, os vários tipos de corruptos que existem em nosso país, suas características e como eles atuam. Uma bela crônica, que vale a pena ser lida e que foi, a meu pedido, liberada para publicar neste nosso querido “O Oeste Paulista”, um dos mais antigos jornais de nossa região, e que muito nos honra...
Que todos os nossos leitores sintam, como eu senti, a delícia de se ler esta bela peça literária, que é a crônica, uma crônica do Frei Betto...

José Carlos Ramires
jc_ramires@yahoo.com.br


O Perfil do Corrupto
Copyright 2011 autorizado
Por Frei Betto, frade dominicano

Manifestações públicas em várias cidades exigem o fim do voto secreto no Congresso; o direito de o CNJ[1] investigar e punir juízes; a vigência da Ficha Limpa nas eleições de 2012; e o combate à corrupção na política.

O corrupto age movido pela ambição de dinheiro...
Por que há tanta corrupção no Brasil? Temos leis, sistema judiciário, polícias e mídia atenta. Prevalece, entretanto, a impunidade – a mãe dos corruptos. Você conhece um notório corrupto brasileiro? Foi processado, e está na cadeia?

O corrupto não se admite como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis. Anzol sem isca, peixe não belisca.
O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence; o caixa dois, investimento eleitoral. Bobos aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.

Há vários tipos de corruptos. O corrupto oficial se vale da função pública para extrair vantagens a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem custeada pelo erário, usa cartão de crédito debitável no orçamento do Estado, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.

Sua lógica é corrupta: “Se não aproveito, outro sai no lucro em meu lugar”. Seu único temor é ser apanhado em flagrante. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver o nome estampado nos jornais e a cara na TV.

O corrupto não tem escrúpulo em dar ou receber caixas de uísque no Natal, presentes caros de fornecedores ou patrocinar férias de juízes. Afrouxam-no com agrados e, assim, ele relaxa a burocracia que retém as verbas públicas.

Há o corrupto privado. Jamais menciona quantias, tão somente insinua... É o rei da metáfora. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor sabe ler nas entrelinhas.

O corrupto “franciscano” pratica o toma lá, dá cá. Seu lema: “quem não chora, não mama”. Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção.
O corrupto exibido gasta o que não ganha, constrói mansões, enche o pasto de bois, convencido de que puxa-saquismo é amizade e sorriso cúmplice, cegueira.

O corrupto cúmplice assiste ao vídeo da deputada embolsando propina escusa e ainda finge não acreditar no que vê. E a absolve para, mais tarde, ser também absolvido.
O corrupto previdente fica de olho na Copa do Mundo, em 2014, e nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Sabe que os jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, orçados em R$ 800 milhões, consumiram R$ 4 bilhões.

O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem-sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra e trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos.

Enquanto os corruptos brasileiros não vão para a cadeia, ao menos nós, eleitores, no ano que vem, poderemos impedi-los de serem eleitos para funções públicas.

Frei Betto é escritor e assessor de movimentos sociais, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
Publicação autorizada por email em 18/11/2011 para José Carlos Ramires
Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor.Assine todos os artigos do escritor e os receberá diretamente em seu e-mail. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br


[1] Conselho Nacional de Justiça

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Chefe Olavo, um exemplo de cidadão que sempre foi e sempre será...


Chefe Olavo, um exemplo de cidadão que sempre foi e sempre será...
José Carlos Ramires
Colaborador
jc_ramires@yahoo.com.br
Chefe Olavo, uma figura exemplar, um cidadão por excelência, um homem simples, com humildade aflorando em sua pele, em seus atos e palavras. Seu nome completo, Olavo Ayres de Lima, tendo “y” no seu nome Ayres, que diz ele, não sabe de onde provem, ou pelo menos o do porquê de tão inusitado nome, segundo suas palavras. E que faz “questam” deste “y”, como sempre costuma dizer para o vocábulo “questão”, um cacoete lingüístico, talvez ligado ao caipirismo, por conta de suas origens e do local de seu nascimento, a bela Itapetininga, uma das cidades da média Sorocabana pertencente ao Quadrilátero Caipira, região formada pelas localidades de Sorocaba, Botucatu, Piracicaba e Campinas, de onde muitos músicos surgiram, e que, tal como os violeiros, cantadores do sertão, sanfoneiros e das famosas “duplas caipiras”, também o Chefe Olavo, nascido entre eles, contagiado foi pela virose musical muito forte da região, tornando-se um apaixonado pela música e de seus instrumentos de sopro, as cornetas, clarins e trumpetes... Em muitos bailes e orquestras, este músico Olavo, encantou e alegrou... Jovens e adultos.
Nascido em 23 de dezembro de 1923, de sua mãe d. Eugênia Ayres de Lima e de seu pai, Cesário Ayres de Lima, Olavo, um rapazote com seus 14 anos incompletos, chega a Santo Anastácio no último trimestre de 1937, que para ele, penso eu, deva ter sido uma experiência única e marcante.
Seu pai, Sr. Cesário, nascido em Ribeirão Preto, um rapaz que trabalhava como músico num circo, por uma dessas andanças circenses, chega a Itapetininga e lá conhece uma linda senhorita de nome bonito e charmoso, Eugênia... Com ela se casa, por lá fica e estabelece residência. Trabalha como músico e como funileiro na confecção de artigos de lata e de folhas-de-flandres, como canecos, funis, lamparinas e lampiões a querozene e outros produtos e artigos de ferro. Com d. Eugênia teve dois filhos, um que logo morre aos sete anos de idade e o segundo, Olavo, que por tal destino, acaba sendo filho único.
Como sabia escrever, seu Cesário arruma um trabalho num banco em Pirajú e para lá se muda. A família mora um tempo em Ipauçú e depois em Assis. Aqui nesta cidade passa a trabalhar na Estrada de Ferro Sorocabana, dando por vir a Santo Anastácio, com a mulher, d. Eugênia e seu filho Olavo, para trabalhar por alguns meses... E por aqui acabou ficando e montando residência. E de Santo Anastácio, ela e seu filho Olavo nunca mais saíram... E adotaram este rincão anastaciano, como lar definitivo...
D. Eugênia, por conta de sua atividade de parteira, profissão de prática adquirida ainda em Itapetininga, por obra e arte de uma enfermeira-parteira formada na Escola de Medicina de Curitiba, que muito a auxiliou nos altos de Itapetininga, muitos partos aqui executou e muitas crianças ao mundo ela apresentou.
Foram mais de duas mil crianças que de suas mãos nasceram. Muitas crianças e muitas estórias, de vidas ainda por contar, que de muitos não se sabe, mas ela, no seu mundo espiritual reservado, sabe quem e porque vieram, porque nasceram e um destes, de suas mãos nascido, neste momento escreve e a homenageia, e também a seu filho, e por isto e por muito mais, meus agradecimentos sinceros lhes dedica. A d. Eugênia, por meu nascimento e ao Chefe Olavo, por seus exemplos de cidadania, de humildade e de bondade.
Em Santo Anastácio, Olavo conhece uma graciosa jovem de nome Maria, que de Aparecida lhe completa. Casam-se na Igreja Paroquial de Santo Anastácio em 08 de dezembro de 1948, e deste matrimônio, três filhos nascem: Maria Eugênia, Darli e Oliver, e de seus casamentos, chefe Olavo e sua mulher Maria, hoje, sete netos e dois bisnetos possuem... Mas, muitos outros descendentes deixa o Chefe Olavo, seus pequenos e jovens escoteiros espalhados, que com certeza em seus corações e mentes, um gosto alegre de saudade a todos os remete.
A vida deste anastaciano de coração foi pautada por exemplos dignos de um verdadeiro cidadão, preocupado que era pelo encaminhamento dos jovens, nas sendas e nos ensinamentos do Velho Lobo, codinome de Benjamim Sodré, um Almirante, que escreveu o “Guia do Escoteiro”, de 1925, servindo a muitos grupamentos de escoteiros como guia e orientação em suas atividades e também ao Velho Lobo anastaciano, o Chefe Olavo.
Em 18 de março de 1967 é admitido na Venerável Loja Maçônica “José Bonifácio”, onde também se dedicou com muito amor e incansável labor, às lides e responsabilidades desta augusta e respeitável Ordem. Foram 44 anos de atividade ininterrupta...
Chefe Olavo, digno e diligente vereador na 7ª legislatura, de 1973 a 1977. Foi também Conselheiro Tutelar em nossa comunidade e, já de algum tempo, é membro honorário do Rotary Club desta cidade. A sua profissão sempre foi a de pintor, pintor de casas, de letreiros, de propagandas em painéis e de tudo que se relacionasse a letras e a escritos, e também pintor de todo tipo de equipamentos. Um incansável batalhador nesta lide.
Mas, de certo modo, o que ficou marcado em sua vida, foi a sua dedicação ao Escotismo em nossa terra. Em 1955 teve seu primeiro registro oficial na UEB – União dos Escoteiros do Brasil. Fundador e criador do Grupo Escoteiro Caiuá, nº 124 – UEB/SP (http://gecaiua.blogspot.com/).
Entretanto, desde 1938, com idade de 14/15 anos, sempre lidou com o escotismo, seja participando ou chefiando. Foram mais de 60 anos de luta e dedicação ao escotismo anastaciano. Muitas crianças e jovens anastacianos passaram pela orientação educadora do grande e agora “Velho Lobo”, o grande “Chefe”, o sempre e sempre Chefe Olavo...
A você, meu querido Chefe, os nossos agradecimentos e em nome de todos e por todos os seus pupilos escoteiros, um sempre e grandioso grito de “hurra”...
E em especial, neste glorioso dia de 11 de novembro de 2011, véspera das festividades das comemorações republicanas, do dia da Bandeira e das comemorações dos 86 anos de emancipação político-administrativa de nosso município, quando a Câmara Municipal outorga e entrega ao Chefe Olavo, com justiça e glória, o seu bem merecido, justo e perfeito título de “Cidadão Anastaciano”, que em verdade, sempre foi e sempre será... Os nossos parabéns ao cidadão Olavo Ayres de Lima, o nosso sempre “Chefe Olavo”...
Um abraço especial, por três vezes...
José Carlos Ramires
11/11/2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Em algum lugar no futuro...

Em algum lugar no futuro...

José Carlos Ramires

colaborador

Que país é este onde a impunidade se alastra, os malfeitores se locupletam, os agentes públicos legislam em causa própria, onde os políticos se governam em causa própria e a seus próprios interesses. Que país seria este? Acho que não precisamos de resposta.

Nossas crianças se perdem no lodo sujo da mediocridade, nos descasos das famílias desestruturadas, nas drogas e nas violências, nas ruas e nos próprios lares.

Fala-se em ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente; Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente; Conselheiros Tutelares que cuidam da Assistência das Crianças e dos Adolescentes. Políticas de Proteção e de Assistência aos menores e adolescentes, e de tudo o mais que for válido e importante. Temos de tudo, temos leis, isso e aquilo, e mesmo assim estamos perdendo as rédeas do controle, com nossas crianças se perdendo nos meandros escuros da noite e dos negócios escusos...

Parece-nos que não estamos funcionando a contento e que em alguma coisa e em algum lugar estamos errando. Em que estamos errando? Onde e quando foi que nos perdemos? Estas são perguntas, que de nós e do governo, exigem-se uma resposta ou muitas respostas.

Do que mais estamos precisando? Sabem do que precisamos? De mais educação... E educação de boa qualidade. De melhores escolas e de políticas sociais, fortes e eficientes. De valorização dos Professores e das Escolas Públicas. De boas e excelentes políticas educacionais em todos os níveis de governo.

Vivemos num mundo, e num país onde tudo se permite, onde todos têm os seus direitos, e ninguém nem pensa sobre os seus deveres. Em nossa Constituição só vemos Direitos disto e Direitos daquilo e nunca, mas nem um pouquinho, sobre os Deveres disto e os Deveres daquilo. Nos Direitos todos agem e exigem, mas nos Deveres ninguém se manifesta e nem é molestado, achando que não é de sua obrigação... Só quando se comete algum ato ilícito e mesmo assim, nestes atos criminosos, estes não são punidos exemplarmente. E vivemos num ambiente onde, infelizmente, o Crime Compensa... A engenharia financeira do Crime é favorável ao criminoso. A sua pena é muito abrandada e isto transparece a todos, aos bons e aos maus cidadãos e até aos criminosos de carteira... E nossos parlamentares nada fazem... Legislam para quem?

Quanto aos políticos, nem se fala... Aqui já temos que inventar uma nova maneira de abordarmos o estudo sobre estes comportamentos sui-generis e diferenciados dos políticos. Todos se acham impunes e imputáveis. Legislam em causa própria, fazem as leis de tal modo a lhes favorecer. Aumentam seus salários e nada acontece. Criam verbas de tudo e sobre tudo a que lhes dizem respeito. Possuem direitos disso e daquilo. Contratam assessores e criam diretorias disto e daquilo, só para empregarem os seus apaniguados e protegidos. Secretarias e Ministérios cada vez em maior quantidade... Até onde vamos?

Estamos num sistema de governo onde o que impera não é a Democracia, o governo do povo e para o povo. A democracia é uma ilusão, um engodo, onde todos nisto acreditam. O governo acha que é democrático e o povo acredita que o sistema é democrático. O que impera em nosso sistema é um Governo de Políticos, brincando de Política Democrática e ditando leis que só a eles mesmos, e a seus benfeitores interessam... Um governo onde impera a Mediocracia e não a Democracia. Um governo onde, pelo atual sistema imposto, o povo não tem soberania. Quem tem soberania é o próprio sistema, um sistema onde todos os políticos e seus prepostos se empregam e se locupletam, onde os dirigentes nomeados, indicados ou apadrinhados, criam os seus próprios Sindicatos da Desgovernança e da Locupletagem, com invenções malucas e muito bem estruturadas de como sacar e exaurir os cofres da viúva... Todos criam os seus jeitinhos, esquemas e modos de tirar alguma vantagem. Um sistema onde se impera a troca de favores, transmutados em um balcão de negócios, onde a moeda de troca são os cargos, as nomeações, os beneplácitos, os nichos de mercados, onde os cargos e funções de governo, são trocados e vendidos...

E contra isto temos que dar um basta! E que nas urnas façamos valer as nossas vontades... Talvez, em algum lugar no futuro, poderemos dizer que enfim conseguimos a verdadeira Democracia, do governo do povo e para o povo, onde o Soberano seja o Povo e mais ninguém... E que Deus nos ajude! Porque Ele disto tudo, culpado não é... Mas nós somos...

27/10/2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

09/09/2011 > Sete de Setembro, uma comemoração e tanto...





Sete de setembro, uma comemoração e tanto...








A comemoração cívica mais importante e bonita que já vi em minha vida aconteceu nesta última quarta-feira, 07 de setembro de 2011, 189 anos depois... Muitos anos nos separam desde aquele glorioso 07 de setembro de 1822, o dia em que o Príncipe-Regente D. Pedro declara o Brasil independente do Reino de Portugal.

Como isto aconteceu? Como fui acordado? Como me chamaram atenção? Simplesmente pelos sons ecoados de baixo para cima, desde a Praça Ataliba Leonel, quando um grupo de 24 rapazes, entre jovens e crianças, em formação característica, gritando alertas e frases de comando, chamando e convocando os transeuntes para o evento que em seguida se apresentaria.

Isto logo cedo, por volta das oito horas da manhã, de um Sete de Setembro até então mal lembrado, e nem sequer citado. Foram precisos 24 jovens para me alertar. Hoje é o Sete de Setembro! Não um dia qualquer. E deram três, cinco voltas na praça. Fui me trocar e tomar um café. Um café rápido.

Entretanto, por força de compromisso de trabalho, fui em direção ao meu escritório, quando percebi o movimento daqueles jovens sentados numa ruela da praça ainda sem calçamento. Estavam todos em cima da areia esparramada naquele trecho, sentados em bancos amarelos, das mesmas de uma das cores de nossa bandeira, como a anunciar o que logo se viria, veria e se sentiria.

Ao visar aquela formação de jovens, conversando e gesticulando, perguntei-me: - O que será que estão fazendo? Isto me despertou uma curiosidade incontrolável e imediatamente peguei a máquina fotográfica e lá fui averiguar e assuntar.

Era uma conversação, seguida de algumas instruções comandadas por dois jovens, jovens escoteiros já formados e devidamente uniformizados nos costumes e ditames da União dos Escoteiros do Brasil – UEB. Seus nomes: Jorge, o mais velho e Augusto Rena, o mais novo.

Apresentei-me e um colóquio se firmou. Eles estavam preparando uma comemoração e um estudo em grupo do acontecimento do dia, o dia em que se comemora a nossa Independência. O glorioso 07 de setembro...

Algumas fotos tirei, e nestas conversas vi o ressurgimento recente de um dos mais antigos grupos de escoteiros de nossa região, o famoso Grupo de Escoteiros Caiuá, o de nº 124 do Estado de São Paulo. Este mesmo grupo que foi fundado em 1937 e acompanhado durante muitos anos pelo nosso querido e eterno chefe, o Chefe Olavo, o Olavo Ayres de Lima. Infelizmente, no ano de 2000 a sua atividade foi encerrada.

Mas felizmente, por conta e obra destes jovens idealizadores: Jefferson Cassú Manzano, Augusto Cesar Cardoso Rena, Paulo Henrique Botter Ribas, Willian Gyorf Menezes, Livia Arabori e Jorge Antonio Araruna, o nosso querido Grupo de Escoteiros Caiuá renasce, com força e vigor. Sejamos portanto apoiadores e incentivadores deste velho e novo renascido Grupo de Escoteiros, o do sempre número 124, o do sempre nominado Caiuá.

Surpresas ainda viriam... E logo, quando do término da minha lide laboral, neste feriado nacional, dirigi-me para ao outro lado da rua onde lá se encontrava o agrupamento Caiuá de escoteiros. E deste momento em diante presenciei uma das mais comoventes ações de cidadania: a do hasteamento da Bandeira Nacional, de uma pequena e ao mesmo tempo grande bandeira, de um mastro simples, do tronco fino de uma pequena, porém grande árvore, e de uma corda, branca, tão branca quanto a pureza das almas que ali se encontravam, iniciando-se a cerimônia silenciosa e solene da elevação ao mais alto que possível fosse, daquele lábaro verde-amarelo. Não houve nenhum hino, somente o silêncio emocionante dos ruídos leves que por lá se ouviam. E a bandeira tremulando. A tradição não foi cortada. O hasteamento foi realizado. Autoridades não se viram. Não houve escolas. Não houve fanfarras, e nem aparelhos de som. Sem discursos e sem danças... Simplesmente uma única, simples e grandiosa cerimônia de civismo e cidadania.

Vinte e quatro jovens e um senhor de branco, de máquina fotográfica na mão, registrando um momento eterno, destes que se gravam no lado esquerdo do peito... Viva o Brasil, viva a Independência, viva o Grupo de Escoteiros Caiuá... Meus parabéns aos jovens e meus agradecimentos por este momento...

José Carlos Ramires

07/09/2011 – 189 anos da Independência...

jc_ramires@yahoo.com.br

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Quando se permite o erro, o que é certo se torna chato... E pedante...

Acredito que quase tudo neste país está virando de cabeça para baixo... O Certo não é certo e o erro tolerado. Até onde iremos parar? Não sei. Que o digam os senhores leitores.

Tudo começou com a chegada gradual de uma permissividade sem limites, onde iniciamos a perda lenta e insistente de uma tradição salutar da ordem, da disciplina e da organização. Agora, neste mundo globalizado, tudo se permite, tudo é válido... Os valores se esvaindo pelas mãos como areia fina, tornada que foi, quando rocha um dia fora. Os valores, todos eles, de ética, de moralidade, de honestidade, de justiça, todos estes sensos, todos estes sentimentos de valoração se perderam no tempo, virando coisa do passado, coisa de velho. Hoje o que vale é a esperteza, o que vale é a mais valia, o que vale mais é a valorização do ego, a superação da matéria em relação ao espírito, sendo importante o ter... e não o ser.

Lembro-me de que nas escolas a disciplina e a ordem imperavam e todos obedeciam... Aos professores, aos mais velhos e aos diretores de escola. A disciplina pela manutenção de certos hábitos salutares onde os alunos possuíam seus uniformes e nós, alunos, orgulhávamos de usá-los e de ostentá-los, além de os mantermos, digo, nossas mães mais precisamente, impecáveis, e esta disciplina nos orientava e nos conduzia. Ordem para tudo fazermos.

A primeira atividade escolar do dia começava com uma reunião no pátio, quando todos perfilados, hinos cantávamos, não um, mas dois, mais precisamente o da Bandeira e o glorioso Hino Nacional. Em seguida, e em ordem íamos todos, do pátio para as classes, em ordem, em harmonia e sem correria.

E por quais motivos estou a dizer todas estas coisas, que a muitos, banais possam parecer? Por que? Pelo simples fato de que, não bastasse a noção de progressão continuada nas escolas, digo obrigação de todos os alunos passarem de ano, não interessando muito o seu aprendizado, mas tão somente o resultado frio e numérico das estatísticas do ensino. Mais alunos nas classes, nas escolas, não importando o seu rendimento e o seu aprendizado. Verdadeiros analfabetos escolarizados. Continuando a dizer, não bastasse isto tudo já dito, vem agora em nossas mãos e nas mãos dos professores e alunos, através do MEC – Ministério da Educação e Cultura, algumas cartilhas das mais malucas possíveis, fazendo a apologia do errado e ridicularizando o certo e tornando-o um meio de discriminação dos menos afortunados. Digo isto e indignado fico. O certo não é mais certo e o errado não é mais errado. A norma gramatical não vale. O certo é falar errado. Falar errado pode. Mas... Escrever... Escrever é outra coisa. Escrever, o escrever tem que ser do modo certo. Vejam que discussão interessante. Falar podemos como quiser. Assim falaríamos: “os carro tá sujo”; “nóis vem e nóis vai...” e assim todos “vai” em frente e “seje” o que Deus “quizer”. Epa! “Quizer” não pode, tem que escrever: quiser. Ou seja, falar errado, “nóis podemo”, “mais escrevê” errado, “nóis” num pode.

A língua culta, coitada da língua culta. A nossa valorosa, linda e culta Língua Portuguesa, que da Flor do Lácio nasceu, virando do avesso está. Os seus valores, perdendo estamos, não por culpa do povo, mas por culpa de alguns educadores, que nos incutem estas ideias e conceitos de que o importante é termos a noção de que não podemos discriminar e tornar nossos alunos ridicularizados, e que então, por isto, devemos aceitá-los como são, e como falam! Mas o que está havendo? Mas quem falou que os alunos assim se sentem? Existem estatísticas? Foram feitos estudos? Qual o percentual dos alunos pesquisados? Como foi esta amostragem?

Garanto que, qualquer aluno, mesmo os adultos que estão sendo alfabetizados, não pensam assim. O que estes alunos querem, e muito, é aprender. Aprender a ler, falar e escrever, e de modo correto. Porque motivos iriam querer ou aceitariam falar e escrever errado? Pois que é mais fácil escrever errado, quem errado fala, esta é a tendência natural. A oportunidade tem que ser dada. Não podemos omitir a verdade, e o que é a verdade senão o conhecimento? E neste caso: o que é o conhecimento senão a verdade de que existe uma normativa, ou uma norma gramatical, devendo ela deve ser obedecida. Deveria ser diferente? Não deveria existir uma norma?

Dizem alguns estudiosos, pedagogos e psicólogos, que, se insistirmos em corrigir suas falas, os novos pequenos alunos, e também os adultos, sentir-se-ão envergonhados e não aprenderão. Mas como? Se estão na escola, prá que serve então a escola, senão para um único, valoroso e abençoado fim, que não seja o de aprender. E neste aprender, um conhecimento conquistar, e com este conhecimento a verdade lhe aparecer, como um halo de luz em sua mente brilhar.

A estes alunos havemos de lhes dar a possibilidade de outros caminhos tomarem e de escolhas fazerem. Somente quem sabe, quem tem o conhecimento, sabe distinguir, durante a fala e ou escrita, diferenciar o que é e o que não é certo. E pode então, a seu modo, com sua arte de escrever, escrever do modo e do jeito que lhe aprouver, se sua obra, uma obra de arte for. Quantos escritores de renome já escreveram romances fantásticos e belos, usando os termos e modos de falar dos matutos mineiros, dos atrevidos caipiras dos lados paulistas, do malemolejo dos falares característicos dos nordestinos das caatingas, não só da flora dura e retorcida, mas também das falas sertanejas, duras e retorcidas. Cada povo tem um modo e um jeito especial de se falar, mas nem por isto, deixam de ter o direito de saber o modo correto, se assim uma oportunidade tivesse. Mas, será que estamos isto fazendo? Será que é isto o que os governos estão propiciando? Estamos realmente dando estas oportunidades? A oportunidade do ensino correto, justo e perfeito, para um maior e melhor aprendizado, e deste aprendizado um melhor conhecimento adquirir, e melhores oportunidades em suas vidas lhes aprouverem?

O que nós queremos? Muitos falam de uma melhor segurança, no ir e no vir, sem medos e sem temores. Que a violência é de só aumentar. Que ninguém mais consegue sossegar.

Outros dizem que de leis mais duras precisamos, novos códigos, civis e criminais e também processuais. Que a Justiça não pune, que a impunidade graça, para graça dos ricos, e desgraça dos mais pobres. Aos ricos os recursos e aos pobres, sem recursos, o chicote da Lei. Aos bandidos e criminosos confessos, lei branda e concessionária. De tudo isto podemos em parte concordar. Mas, de uma coisa tenho certeza. De que melhor seria, melhor educarmos e mais dinheiro com escolas gastarmos. Pois que, com escolas, e digo escolas, e não esses sistemas, que pensam que ensinam, e de alunos, que acham que aprenderam, mas sim de escolas, verdadeiras escolas, dessas com E maiúsculo, melhores homens seremos, e de prisões, não precisaríamos...

Quanto mais educação, menos prisões... Este é o ensinamento e este o caminho...


José Carlos Ramires - 2011 A.D. – 31 de maio

Santo Anastácio-SP