quarta-feira, 26 de março de 2014

Um 07 de Setembro diferente... Uma emoção demais...

Sete de setembro, uma comemoração e tanto...

A comemoração cívica mais importante e bonita que já vi em minha vida aconteceu nesta última quarta-feira, 07 de setembro de 2011, 189 anos depois... Muitos anos nos separam desde aquele glorioso 07 de setembro de 1822, o dia em que o Príncipe-Regente D. Pedro declara o Brasil independente do Reino de Portugal.

Como isto aconteceu? Como fui acordado? Como me chamaram atenção? Simplesmente pelos sons ecoados de baixo para cima, desde a Praça Ataliba Leonel, quando um grupo de 24 rapazes, entre jovens e crianças, em formação característica, gritando alertas e frases de comando, chamando e convocando os transeuntes para o evento que em seguida se apresentaria.
Isto logo cedo, por volta das oito horas da manhã, de um Sete de Setembro até então mal lembrado, e nem sequer citado. Foram precisos 24 jovens para me alertar. Hoje é o Sete de Setembro! Não um dia qualquer. E deram três, cinco voltas na praça. Fui me trocar e tomar um café. Um café rápido.
Entretanto, por força de compromisso de trabalho, fui em direção ao meu escritório, quando percebi o movimento daqueles jovens sentados numa ruela da praça ainda sem calçamento. Estavam todos em cima da areia esparramada naquele trecho, sentados em bancos amarelos, das mesmas de uma das cores de nossa bandeira, como a anunciar o que logo se viria, veria e se sentiria.

Ao visar aquela formação de jovens, conversando e gesticulando, perguntei-me: - O que será que estão fazendo? Isto me despertou uma curiosidade incontrolável e imediatamente peguei a máquina fotográfica e lá fui averiguar e assuntar.
Era uma conversação, seguida de algumas instruções comandadas por dois jovens, jovens escoteiros já formados e devidamente uniformizados nos costumes e ditames da União dos Escoteiros do Brasil – UEB. Seus nomes: Jorge, o mais velho e Augusto Rena, o mais novo.
Apresentei-me e um colóquio se firmou. Eles estavam preparando uma comemoração e um estudo em grupo do acontecimento do dia, o dia em que se comemora a nossa Independência. O glorioso 07 de setembro...

Algumas fotos tirei, e nestas conversas vi o ressurgimento recente de um dos mais antigos grupos de escoteiros de nossa região, o famoso Grupo de Escoteiros Caiuá, o de nº 124 do Estado de São Paulo. Este mesmo grupo que foi fundado em 1937 e acompanhado durante muitos anos pelo nosso querido e eterno chefe, o Chefe Olavo, o Olavo Ayres de Lima. Infelizmente, no ano de 2000 a sua atividade foi encerrada.

Mas felizmente, por conta e obra destes jovens idealizadores: Jefferson Cassú Manzano, Augusto Cesar Cardoso Rena, Paulo Henrique Botter Ribas, Willian Gyorf Menezes, Livia Arabori e Jorge Antonio Araruna, o nosso querido Grupo de Escoteiros Caiuá renasce, com força e vigor. Sejamos portanto apoiadores e incentivadores deste velho e novo renascido Grupo de Escoteiros, o do sempre número 124, o do sempre nominado Caiuá.

Surpresas ainda viriam... E logo, quando do término da minha lide laboral, neste feriado nacional, dirigi-me para ao outro lado da rua onde lá se encontrava o agrupamento Caiuá de escoteiros. E deste momento em diante presenciei uma das mais comoventes ações de cidadania: a do hasteamento da Bandeira Nacional, de uma pequena e ao mesmo tempo grande bandeira, de um mastro simples, do tronco fino de uma pequena, porém grande árvore, e de uma corda, branca, tão branca quanto a pureza das almas que ali se encontravam, iniciando-se a
cerimônia silenciosa e solene da elevação ao mais alto que possível fosse, daquele lábaro verde-amarelo. Não houve nenhum hino, somente o silêncio emocionante dos ruídos leves que por lá se ouviam. E a bandeira tremulando. A tradição não foi cortada. O hasteamento foi realizado. Autoridades não se viram. Não houve escolas. Não houve fanfarras, e nem aparelhos de som. Sem discursos e sem danças... Simplesmente uma única, simples e grandiosa cerimônia de civismo e cidadania.

Vinte e quatro jovens e um senhor de cabelos brancos, de máquina fotográfica na mão, registrando um momento eterno, destes que se gravam no lado esquerdo do peito... Viva o Brasil, viva a Independência, viva o Grupo de Escoteiros Caiuá... Meus parabéns aos jovens e meus agradecimentos por este momento...





José Carlos Ramires
07/09/2011 – 189 anos da Independência...

jc_ramires@yahoo.com.br

sábado, 1 de junho de 2013

Cap. 144 - Contos e causos de um advogado...

Cap. 144 - Contos e causos de um advogado...

Texto do capítulo do livro: “Código de Vida”, de Saulo Ramos,
advogado famoso, de longa e profícua vida nas lides jurídicas e políticas.
De Brodowski, 08/06/1929 – Ribeirão Preto, 28/04/2013, com 83 anos.
Foi Ministro da Justiça no governo José Sarney (1985-1990)...

Código da Vida, um romance da vida, de memórias, de suspense e da história recente da vida política do nosso Brasil. Um pouco de cada coisa, formando um todo de muito interesse, de interesse inebriante, contagiante, que de qualquer modo, encanta, e nos abduz a seguir, sem descanso, porém com prazer, na lida da leitura.
José Carlos Ramires
Junho/2013, 1º dia

A
dvogado. Coisa estranha. No princípio, me senti meio padre, meio psiquiatra. As pessoas contavam seus dramas, nem sempre fielmente; mas eu as ouvia com atenção, para pinçar, no meio da história, algo que demonstrasse um ponto de direito lesado, que, afinal, deveria ser o objeto da causa.
            Depois, sozinho, estudava tudo. Ráo[1], meu chefe, ensinava: “Primeiro, leia a lei de regência e verifique você mesmo o que a norma lhe diz. Reflita e tire suas próprias conclusões. Jurisprudência e doutrina ajudam, mas são subsídios que se agregam depois”.
            Do ponto de vista jurídico, aprendi que a aflição humana causada por uma lesão de direito, por mais individual que seja sempre é um fato social, porque resulta de costumes, da convivência, de atritos, da cultura e da previsão legislativa. Fato social.
            Assim, fui entrando para os tribunais com o fato social às costas, enfiando-lhes roupas antigas, costuradas por Vivante, Carnelutti, Clóvis, Pontes, Ráo, Mazeaud e Mazeaud, Kelsen.[2] De quando em vez, um remendo era meu. Roupa nova no fato social. Sobretudo naquele atormentado pela dor na alma.
            E começou um não-acabar-mais. Clientes, clientes, clientes, grandes empresas, gente famosa, gente pobre, gente rica, gente e mais gente.
            Adeus, abacaxi de Brodowski; adeus, cafezais de Cravinhos; adeus, chope do Pinguin; adeus, Ribeirão Preto; adeus, meu jornalismo de Santos. Agora, esta em São Paulo, rodeado de gente e de fatos sociais, lendo leis, estudando direito, devorando livros.
            Sem perceber exatamente quando, transformei-me em advogado famoso, considerando-se  que a fama é medida pela afluência de clientes. Por mais que quisesse, hora para consulta começou a escassear. Novos clientes na fila, esperando meses, fato que os fascinava e os mantinha à espera quando não havia urgência.
            Fui um ganhador de causas. Venci quase todas. Não sei como sabiam disso, pois não fazia publicidade. Jamais permiti notícias sobre resultados de processos, até porque, longe da imprensa, o litígio é mais sereno para o cliente, para o advogado e para o juiz.
            Mas as pessoas ficavam sabendo e forçavam a porta do escritório, para alegria das minhas secretárias, meus assistentes e meus colegas e para o meu cansaço, embora, ao aceitar uma causa, passasse a dar tudo de mim, como se fosse a única.
            Claro que a privilegiada situação profissional rendeu dividendos. Nas proporções devidas, ganhei bem. A Vicente Ráo, que sabia tudo de quase tudo, consegui, depois de muito tempo, ensina uma única coisa: cobrar honorários.
            No escritório, porém, jamais deixei de atender a pessoas pobres, que nada podiam pagar, quando o caso era de evidente justiça.
            Tive enorme prazer em atender a um paraplégico pobre e ganhar sua causa depois de longa demanda. O caso dele despertou-me para um problema: no Brasil, não existia um único texto legal em defesa do deficiente físico. Dei-lhe até os honorários de sucumbência, isto é, pratiquei o assistencialismo, mas senti que o problema era mais profundo e ficou me remoendo. Muitas pessoas sem recursos me provuravam por ouvir dizer. Entre os ilustres clientes “de graça”, a UNE (União Nacional dos Estudantes), que tinha como presidente Lindbergh Farias, hoje senador e pelo PT, eleito pelo Estado do Rio de Janeiro. Sua maior qualidade, no entanto, era a simpatia e o sotaque de paraibano. Ganhei para eles o direito de pagar meia-entrada em todos os espetáculos públicos, a começar pelo cinema. Quando vinha o cliente pobre, a primeira frase era comum a todos: “Não posso, doutor, para um advogado como o senhor, mas...”. Depois desse “mas”, quase sempre um drama humano, a angústia, a dor, o pedido de socorro.
            Se a causa fosse simples, encaminhava para advogados mais jovens e os compensava com participação em outras, de boa remuneração. Se a questão de direito fosse intrincada, eu mesmo ficava com o problema. E um pobre, pela simplicidade de suas vidas e relações, pode ter questão de direito complexa? Pode, e como!
            Nada disso foi feito por demagogia ou por exibicionismo, mesmo porque, como já disse, jamais fiz publicidade ou permiti noticiário sobre meus casos. Há um momento na vida de todo homem em que o exercício da solidariedade, por ternura ou amor ao próximo, não depende de remuneração. Creio que os advogados, quase todos, cultivam esse sentimento. Enfim, esses auto-elogios estão sendo escritos num elegante – penso eu – exercício de cabotinismo[3], para contar como fiquei sabendo da existência desse bicho chamado advogado.

...E aqui termina este capítulo para começar outro recomeço.  O do início dos primeiros contatos do dr. Saulo, quando criança, com a justiça e com advogados... E que talvez explique o seu despertar para a lide judiciária.
Aguarde o próximo capítulo... O de nº 145...
José Carlos Ramires
01/junho/2013





[1] Vicente Paulo Francisco Rao1 (São Paulo, 16 de junho de 1892 — São Paulo, 19 de janeiro de 1978) foi um advogado, jurista, professor e político brasileiro. ­ - http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao
[2] Todos advogados e jurista famosos
[3] substantivo masculino
Derivação: por extensão de sentido -Tendência a atrair ou tentar atrair sobre si as atenções

Cap. 144 - Contos e causos de um advogado...

Texto do capítulo do livro: “Código de Vida”, de Saulo Ramos,
advogado famoso, de longa e profícua vida nas lides jurídicas e políticas.
De Brodowski, 08/06/1929 – Ribeirão Preto, 28/04/2013, com 83 anos.
Foi Ministro da Justiça no governo José Sarney (1985-1990)...

Código da Vida, um romance da vida, de memórias, de suspense e da história recente da vida política do nosso Brasil. Um pouco de cada coisa, formando um todo de muito interesse, de interesse inebriante, contagiante, que de qualquer modo, encanta, e nos abduz a seguir, sem descanso, porém com prazer, na lida da leitura.
José Carlos Ramires
Junho/2013, 1º dia

A
dvogado. Coisa estranha. No princípio, me senti meio padre, meio psiquiatra. As pessoas contavam seus dramas, nem sempre fielmente; mas eu as ouvia com atenção, para pinçar, no meio da história, algo que demonstrasse um ponto de direito lesado, que, afinal, deveria ser o objeto da causa.
            Depois, sozinho, estudava tudo. Ráo[1], meu chefe, ensinava: “Primeiro, leia a lei de regência e verifique você mesmo o que a norma lhe diz. Reflita e tire suas próprias conclusões. Jurisprudência e doutrina ajudam, mas são subsídios que se agregam depois”.
            Do ponto de vista jurídico, aprendi que a aflição humana causada por uma lesão de direito, por mais individual que seja sempre é um fato social, porque resulta de costumes, da convivência, de atritos, da cultura e da previsão legislativa. Fato social.
            Assim, fui entrando para os tribunais com o fato social às costas, enfiando-lhes roupas antigas, costuradas por Vivante, Carnelutti, Clóvis, Pontes, Ráo, Mazeaud e Mazeaud, Kelsen.[2] De quando em vez, um remendo era meu. Roupa nova no fato social. Sobretudo naquele atormentado pela dor na alma.
            E começou um não-acabar-mais. Clientes, clientes, clientes, grandes empresas, gente famosa, gente pobre, gente rica, gente e mais gente.
            Adeus, abacaxi de Brodowski; adeus, cafezais de Cravinhos; adeus, chope do Pinguin; adeus, Ribeirão Preto; adeus, meu jornalismo de Santos. Agora, esta em São Paulo, rodeado de gente e de fatos sociais, lendo leis, estudando direito, devorando livros.
            Sem perceber exatamente quando, transformei-me em advogado famoso, considerando-se  que a fama é medida pela afluência de clientes. Por mais que quisesse, hora para consulta começou a escassear. Novos clientes na fila, esperando meses, fato que os fascinava e os mantinha à espera quando não havia urgência.
            Fui um ganhador de causas. Venci quase todas. Não sei como sabiam disso, pois não fazia publicidade. Jamais permiti notícias sobre resultados de processos, até porque, longe da imprensa, o litígio é mais sereno para o cliente, para o advogado e para o juiz.
            Mas as pessoas ficavam sabendo e forçavam a porta do escritório, para alegria das minhas secretárias, meus assistentes e meus colegas e para o meu cansaço, embora, ao aceitar uma causa, passasse a dar tudo de mim, como se fosse a única.
            Claro que a privilegiada situação profissional rendeu dividendos. Nas proporções devidas, ganhei bem. A Vicente Ráo, que sabia tudo de quase tudo, consegui, depois de muito tempo, ensina uma única coisa: cobrar honorários.
            No escritório, porém, jamais deixei de atender a pessoas pobres, que nada podiam pagar, quando o caso era de evidente justiça.
            Tive enorme prazer em atender a um paraplégico pobre e ganhar sua causa depois de longa demanda. O caso dele despertou-me para um problema: no Brasil, não existia um único texto legal em defesa do deficiente físico. Dei-lhe até os honorários de sucumbência, isto é, pratiquei o assistencialismo, mas senti que o problema era mais profundo e ficou me remoendo. Muitas pessoas sem recursos me provuravam por ouvir dizer. Entre os ilustres clientes “de graça”, a UNE (União Nacional dos Estudantes), que tinha como presidente Lindbergh Farias, hoje senador e pelo PT, eleito pelo Estado do Rio de Janeiro. Sua maior qualidade, no entanto, era a simpatia e o sotaque de paraibano. Ganhei para eles o direito de pagar meia-entrada em todos os espetáculos públicos, a começar pelo cinema. Quando vinha o cliente pobre, a primeira frase era comum a todos: “Não posso, doutor, para um advogado como o senhor, mas...”. Depois desse “mas”, quase sempre um drama humano, a angústia, a dor, o pedido de socorro.
            Se a causa fosse simples, encaminhava para advogados mais jovens e os compensava com participação em outras, de boa remuneração. Se a questão de direito fosse intrincada, eu mesmo ficava com o problema. E um pobre, pela simplicidade de suas vidas e relações, pode ter questão de direito complexa? Pode, e como!
            Nada disso foi feito por demagogia ou por exibicionismo, mesmo porque, como já disse, jamais fiz publicidade ou permiti noticiário sobre meus casos. Há um momento na vida de todo homem em que o exercício da solidariedade, por ternura ou amor ao próximo, não depende de remuneração. Creio que os advogados, quase todos, cultivam esse sentimento. Enfim, esses auto-elogios estão sendo escritos num elegante – penso eu – exercício de cabotinismo[3], para contar como fiquei sabendo da existência desse bicho chamado advogado.

...E aqui termina este capítulo para começar outro recomeço.  O do início dos primeiros contatos do dr. Saulo, quando criança, com a justiça e com advogados... E que talvez explique o seu despertar para a lide judiciária.
Aguarde o próximo capítulo... O de nº 145...
José Carlos Ramires
01/junho/2013





[1] Vicente Paulo Francisco Rao1 (São Paulo, 16 de junho de 1892 — São Paulo, 19 de janeiro de 1978) foi um advogado, jurista, professor e político brasileiro. ­ - http://pt.wikipedia.org/wiki/Vicente_Rao
[2] Todos advogados e jurista famosos
[3] substantivo masculino
Derivação: por extensão de sentido -Tendência a atrair ou tentar atrair sobre si as atenções

domingo, 2 de dezembro de 2012

Jornal "O Oeste Paulista", edição nº 4010 de 30/11/2012 da cidade de Santo Anastácio, SP.

CLIQUE AQUI para abrir a edição nº 4010 de 30/11/2012 do jornal "O Oeste Paulista" da cidade de Santo Anastácio, SP.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

09/11/2012 > Crônica do Z. Ramires - "O Tempo não pára, mas o Relógio parece devagar...


O Tempo não pára, mas o Relógio parece devagar...
 (texto publicado no jornal "O Oeste Paulista" de 09/11/2012)
José Carlos Ramires
07/11/2012

Dizem que o tempo não pára. Que o tempo tem movimento. Será? Qual seria o movimento do Tempo? O que diz Albert Einstein sobre o Tempo? De acordo com a sua famosa teoria, a da Relatividade, tudo no mundo é relativo. Algo é pequeno ou grande, quando comparado for a outro objeto. Assim o tempo também seria relativo. Mas relativo ao que? Tempo tem tamanho? Qual seria o tamanho do Tempo?
Mas no caso do Tempo, estamos falando dos movimentos relativos entre os objetos espalhados pelo mundo e pelo Universo. Quanto maior a velocidade de um objeto, e se neste objeto houvesse um relógio, o tempo do relógio se moveria cada vez mais lento, quanto maior sua velocidade fosse. E assim concluímos que o tempo é relativo.
Quem já não se assustou quando o seu veículo parece movimentar-se de ré quando algum veículo começa andar lentamente à sua frente? E num ato contínuo pisamos no freio, não é? Já não aconteceu isto com você? Acredito que sim. Pois que os movimentos também são relativos entre objetos que se movem. Se um veículo está a 80 km/h e o outro a 50, para quem está no veículo mais lento, a velocidade do outro, na sua percepção, é de 30 km/h, e portanto menor. Em relação a um radar da estrada, o primeiro veículo está a 80 km/h e o outro, mais lento, a 50 km/h. Mas se o radar estivesse no veículo mais lento, a velocidade do veículo que lhe ultrapassa seria de 30 km/h. Interessante não? Bem, nem tanto...
Mas porque digo tudo isto e faço esta explanação? Também não sei. Mas deu-me uma vontade muito grande sobre isto escrever. E tudo como consequência de uma pergunta de um grande irmão-amigo.
– Ô Zé, porque você não escreve sobre o relógio da Estação? Respondo: – Ué, mas por quê?
– Bem... Porque ele não dá a hora correta! E já faz tempo! Diz meu amigo-irmão... – E também porque dele gosto! Complementa o amigo.

            Isto tudo ficou rodando em minha cabeça, mas precisamente nesta minha mente, já um pouco “destrambelada”, que não sei se por muito estresse, ou se por falta de querosene nas lamparinas da mente... Lamparinas da mente? Mas que doidice esta? Sim... Não dizem os especialistas existenciais que nossas mentes são brilhantes? Se brilhantes são, não seria porque temos Luz em nossa Mente? E que estas luzes não seriam emitidas por milhões e milhões de neurônios, transmitindo-se entre si através de pequenos e infinitesimais bloquinhos de bites e baites de luz, de um canto prá outro, e com isto formando nossos pensamentos e liberando nossas ações? Um verdadeiro super-hipercomputador, isto sim, é a nossa Mente... E assim, brincando com as pessoas, digo que, quando há um lapso de memória, é porque preciso carregar com querosene as Lamparinas da minha Mente! Uma brincadeira metafórica, porém pertinente, se bem pensarmos...

            Mas, e quanto ao Relógio da Estação? Este, por sinal, um lindo, valioso e valoroso relógio. E quanto a ele? Será que se cansou de tanto trabalhar, sem nada receber? E por isto não esteja devagar andando? No tempo ou no espaço? Acho que nas duas direções...
Esta hora, criada pelos homens, que também é relativa, por ele não sabemos. Ficou na saudade. Morreu de saudade. De saudade dos tempos em que olhávamos prá ele, e as horas sabíamos. Hoje não? Suas horas, confiáveis não são. O movimento de seus ponteiros não reflete o movimento aparente do sol em relação ao nosso planeta. Há um descompasso. Aparentemente o tempo do relógio corre atrás do tempo do Sol, que pelo seu movimento nos dá a verdadeira hora. O coitado do relógio da Estação está lento, devagar, e nesse caminhar um dia ele poderá parar.
            Consertos e acertos devem ser feitos. Velhos tempos, dos bons tempos do Sr. Jesus Dias Dumont, pai do amigo Alaor, recém-eleito prefeito de nosso querido município; pois que era ele quem, por sua abnegação e disposição, consertava e ajustava as horas deste nosso Relógio da Estação.
            Quão bom não seria podermos fazer valer os velhos tempos do Sr. Jesus Dumont, que em outra esfera se encontra, e que talvez, e digo talvez com muita esperança, que com seu filho como prefeito, perfeito será no conserto e acertos das horas, prá que elas, sempre corretas sejam e assim continuem para todos nós...
            E que todos os dias continuem sendo dias corretos, para tudo e para todos... E que as horas do Relógio da Estação sejam sempre justas e perfeitas... Para tudo e para todos...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Morte Lenta de um Guerreiro Guarani, uma morte anunciada...

A pedidos e como uma rememoração dos bons tempos de criança e de minha juventude nesta querida Santo Anastácio, onde nasci, onde cresci, brinquei, chorei, fugi, me escondi, nadei em córregos e em muitos lugares estranhos andei, com nossos moleques amigos, vizinhos ou não, primos e conhecidos, nós nos divertimos, choramos, brigamos, nos abraçamos e nos perdoamos... De todos os feitos que nos marcaram acredito que um deles seja o nosso querido cinema de nome pomposo, nome de um  guerreiro de uma tribo de índios, os Guaranis, advindo daí o seu nome: CINE GUARANI...

Esta foi uma das minhas primeiras crônicas escritas e publicada pela primeira vez, acredito, se não me falhar a memória, nos dias finais de novembro de 2006. Esta crônica assim uma estória e um lamento...
CLIQUE AQUI, para ouvir a música de abertura das sessões de então... From a Summer Place

IN MEMORIAM       
A MORTE ANUNCIADA DE UM
GUARANI...


            É difícil admitir, é difícil acreditar, é triste... mas este Guarani a que me refiro está morto. Morto, sem ser velado. Morto sem ser homenageado. Morto, sem choro e nem vela. Só uma fita amarela, representada por uma parede de tábuas retiradas de seu próprio ventre, a isolar e também proteger, os descuidados que em frente passam.
            Quanta noite este Guarani nos abrigou em seu aconchego. Quente no verão e frio no inverno. Mas quem ligava. Quantas tardes de domingo em que a molecada vibrava, com gritos de pavor e de medo, os seriados que todos assistiam. Com risos nas chanchadas brasileiras. Com risos nas estripulias do Cantinflas e do Carlitos, um andarilho que mesmo em trapos não perdia a sua elegância. Quantas tardes... Quanta saudade daqueles seriados, como o do Capitão Kid, um valente pirata, que lutava sem nem se entender porque, mas que lutava e nos encantava.
            E naquele tempo, não tínhamos televisão. As nossas novelas eram os seriados nas tardes de domingo. Sempre à espera do próximo capítulo. E interessante, o mocinho ou a mocinha, sempre ao final do capítulo ficava numa situação de perigo, que a todos permitia incutir em nossas mentes, as mais fantasiosas e fantásticas saídas. Quanta saudade...
            Mais tarde, quando nos tornávamos adolescentes, os encontros com as namoradinhas, invariavelmente marcados nas sessões do Cine Guarani. Ah! agora todos estão percebendo. A memória de quem falo é a do Cine Guarani. Sim, daquele cinema que a todos encantava e deleitava.
            Mas, voltemos ao saudosismo. Quem não se lembra. Só não se lembra quem não teve a honra e o prazer de esperar todos os fins de semana, só prá ir ao cinema. E olhe que estes eventos eram grandiosos. Todos, homens e mulheres, casados ou não, jovens, namorados ou não, todos se preparavam como quem fosse a um casamento. Pois tal evento era importante, muito importante. Era ali onde todos se permitiam socializar de um modo diferente. Quem tinha carro, ia de carro. Quem não tinha, ia a pé. A família toda junta.
            E quando se estava em frente ao cinema, para nós crianças, e acredito que também para os adultos, era um momento de estranha alegria, uma alegria misturada com apreensão, com ansiedade, tudo misturado. As filas, imensas às vezes eram, dependendo do filme, se famosos por sucesso anunciado pelos que da capital chegavam, ou pelas ondas de rádios que nossas mães ouviam com atenção, ondas que vinham de longe, de São Paulo, do Rio de Janeiro. E ficávamos todos, em pé e em fila, andando devagarinho, pensando, pensando e sonhando. Na entrada, as catracas faziam barulho de giro em giro, passando um a um, para conferir a contagem dos presentes, com a contagem dos bilhetes. Gente experta naquele tempo. Ao se entrar na ante-sala, à esquerda o balcão das guloseimas, doces, chocolates, balas. Quem tinha sede tomava água no bebedouro que lá existia, pois de tanta ansiedade as bocas secavam e o sorvido de um gole d'água aplacava a nossa sede, de água e de ansiedade, pois já estávamos na ante-sala, já estávamos dentro. Sem falar que lá também havia sofás, e dos bons, para que, aos que mais cedo chegavam, se permitissem sentar e esperar, das cortinas a sua abertura.

            Quando na sala de projeção se entrava, tudo iluminado, lindo, músicas se ouviam, lindas, de orquestras, de grandes orquestras. O burburinho era intenso. A escolha para entrar e escolher um lugar para se sentar era intrigante. Vou pelo corredor do meio, pelo da esquerda ou da direita? Ah! E tinha também a escolha da distância da tela, mais longe, mais perto. Na parte anterior? Logo na entrada, mais em cima, com as cadeiras em declive? Ou na parte de baixo, em aclive, mais perto da tela? Estes últimos eram das crianças os lugares preferidos. Que de perto todos queriam, ver e ouvir, o som mais forte, a imagem mais de perto, sensações mais fortes.
            Chegando a hora da sessão o início, um som lindo se ouvia, um som característico, de violinos a entoar uma música, que de tão bela, nos deleitava e nos acalmava. As luzes apagando-se lentamente. As cortinas abrindo-se, uma para cada lado. Um show, um show não, um espetáculo! As cortinas se abrindo, a música se ouvindo e de repente, silêncio... Então, um clarão ilumina a tela branca e um estrondo de som inicia a sessão. É chegada a hora. E ela chegou bem quando acordei. Um sonho. Um sonho que de volta não se tem mais. Os anos se passaram. Como um raio iluminando o céu. Caí na realidade. O Guarani morreu, destruído que foi pelo excesso de informações. Não mais cinema em prédios como aquele, do grandioso Cine Guarani. Agora são só filmes engavetados, engavetados em fitas, em fitas de vídeo e em discos, discos de vídeo, os tais devedês, para se ver numa tela, numa telinha, sem o charme dos antigos cinemas de antão.

José Carlos Ramires
29/nov/2006