sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

UMA CRÔNICA DE NATAL...


UMA CRÔNICA DE NATAL...

José Carlos Ramires
Colaborador
Natal 2011
23/12

Uma crônica de Natal... O que devo escrever sobre um dos maiores eventos de comemoração da humanidade, junto do Ano Novo, seu primo-irmão das Festas de Fim de Ano, para agradecimentos pelo ano findo e desejos de bons augúrios do ano que surge? O que deveria escrever? E que dizer do Natal, o aniversário de Jesus, o Messias?
Pensei em definir o que seria o Natal... Natal, substantivo, relativo a nascimento, natalício. Como adjetivo seria o local do nascimento de alguém ou de algo... Mas que importância estas definições teriam? Para mim, e creio que para muitos, Natal é, e nunca deixou de ser uma grande festividade em comemoração ao nascimento de um menino, numa pequena manjedoura e que marcaria para sempre a história dos homens e da humanidade.
            Nasce em Belém na Palestina, entre os anos 8-4 a.C, Aquele que mais tarde seria conhecido por Jesus Cristo, de Christós, uma palavra grega, significando “O Ungido”, segundo orientação dogmática da Igreja Católica. Entre os anos 26-29 d.C é condenado pelos homens de então, e “morto” por crucifixão.
Segundo a língua então falada por Jesus em seu tempo, seria Ele conhecido por Yeoshua Ben Yosef, que significa: Jesus, Filho de José, como era o costume da época.
            Para os muçulmanos Jesus foi um grande profeta e era, na língua árabe, e ainda é, conhecido por “Isa ibn Maryam”, Jesus, filho de Maria.
            Jesus, como enviado de Deus (Yaveh), seria o Messias (Salvador), aquele que resgataria a dignidade dos Judeus, libertando seu povo do jugo implacável dos invasores romanos na Palestina... A sua vida e seus ensinamentos, mudaria o curso da história e o rumo das crenças e da fé, surgindo-se por criação dos homens, uma das maiores Igrejas do mundo, a hoje conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana, por orientação e inspiração de São Paulo Apóstolo. Outras Igrejas surgem, dos mais variados nomes e todas, invariavelmente, focadas e centradas nos ensinamentos de Jesus.
            Mas, ainda me pergunto: que fundamentos, que ensinamentos, ou o que escreveria como conseqüência e como júbilo pelo nascimento deste homem enviado por Deus aos homens da terra? E aos homens de Boa Vontade? O que poderíamos dizer?
            Estamos vivendo uma época de tragédias, de desesperanças para muitos, de fome, de guerras, por conta e obra da desarmonia, da ambição, do egoísmo e desarranjos dos homens. E então, como ficamos? Deixamos assim? Ainda resta muito do que podemos realizar. Mas, com três virtudes não podemos abandonar: a Fé, a Esperança e a Caridade, este tripé mágico deixado como ensinamento pelo nosso Mestre dos Mestres.
            A Fé, uma virtude das mais enigmáticas e místicas que podemos ter. A Fé que acredita, que espera, que busca, sempre e sempre algo, ou um objetivo, uma meta... A Fé que move obstáculos. Uma Fé, calcada na Esperança... Diante de tantas injustiças e iniquidades, o que podemos esperar? Existe esperança para o mundo e para os homens? E existe para cada um de nós?... Tudo começa então com esta resposta: sim, e é para cada um de nós que ela existe!
Cada um de nós, cada ser – como único que é – mesmo com nossas crises, deve buscar esta Esperança escondida em seu íntimo, em seu coração e em sua mente. E onde estaria esta Esperança de um mundo melhor? A esperança estaria na política, na religião, na educação, na ciência, na tecnologia, na criatividade? Não, entendo que a Esperança não está nestas coisas. A Esperança se encontra dentro de nós, em nossa mente, em nossa alma, em nossos corações, nas nossas mudanças de atitudes, de hábitos, na busca incessante do crescimento interior através da Paz tranqüilizante e restauradora.
Com esta Fé, com a Esperança de mudanças para dias melhores, através da Paz Interior, propiciada pelo Crescimento Espiritual, seremos convocados para atitudes de amor, calcadas que são na Caridade... Uma Caridade gratuita, não engessada por vaidades. A Caridade que vem do íntimo de cada um... A Esperança estaria então na Caridade... Esta virtude advinda do amor, um amor sem definição, um amor sem preconceito, um amor pacificador.
O que move o homem? Senão a Esperança, esta força construtora, criativa e sustentadora da Vida...
Neste dia 25 do último mês de cada ano, não nos interessa agora os motivos, mas neste dia comemora-se o Natal de Jesus, o natalício de Jesus, e com ele, e com todas as festividades associadas, rendemos graças e comemoramos o aniversário de Jesus. Nesta data, Ele completa 2.010 anos de vida plena, como filho de Deus e enviado por Deus, para a Salvação dos homens, dos homens de Boa Vontade...
E assim este dia, rendendo-se aos costumes mais antigos, quando se guardava alimentos e conservas de todos os tipos, para o longo inverno que no hemisfério norte se anunciava, transforma-se em todo o mundo cristão em momentos de reflexão e de comemoração em família, com trocas de presentes, brindes, abraços e agradecimentos.
E com a figura do Papai Noel, uma criação dos homens, surge esta lenda do bom velhinho, mas que para as crianças, uma verdadeira realidade se torna. A de que o Papai Noel do Céu, o pai de todas as criancinhas, vem até nós, e para os pequenos, uma esperança em realidade se transformar. Este é o espírito de Natal: uma força energizante que transforma os homens, que alegra as crianças; uma força balsamizante que aplaca as desavenças; uma força reveladora que reanima e reaproxima as pessoas em torno de um personagem verdadeiramente presente. Aquele que numa noite fria de inverno, numa cidadezinha por nome Belém, numa manjedoura simples, rodeado por seus pais, José e Maria, junto a grandes e pequenos animais, e na presença de três misteriosos Reis, trazem presentes e deste modo todos nós ansiamos por esperança de uma nova vida, de uma nova Luz para aclarar os caminhos e alumiar as mentes de todos os homens de Bem e de Fé, de Fé na Esperança, e com esta Esperança, a força de um Amor pleno de Caridade...
Um Feliz Natal a todos... E que a Fé, a Esperança e a Caridade estejam em vossos corações... Busquem a Felicidade, pois que com ela, Boa Sorte você terá, e assim a Paz presente se fará...


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

UMA CRÔNICA ANTIGA DO DR. JORGE WASHINGTON DE OLIVAES...


Uma tragédia que não vem nos jornais...

Proêmio
Este texto é resultado de uma transcrição de um artigo publicado no jornal “O Oeste Paulista” da cidade de Santo Anastácio, SP, no 9º aniversário de fundação do semanário, em 23 de março de 1940 e de autoria do Dr. Jorge Washington de Olivaes, médico.
Por uma acaso do destino esta publicação cai em minhas mãos por intermédio do amigo Lázaro da Silva, o Lazinho, quando pude transcrever este texto, na verdade uma crônica, uma crônica dos costumes da época. Uma época difícil, muito difícil para as mulheres...
José Carlos Ramires
14/12/2011

Dr. Jorge Washington de Olivaes
Médico

            Vamos tratar de um assunto delicado, e pedimos aos nossos possíveis leitores que não julguem mal de nossas intenções, porque elas são as mais honestas que se possa imaginar. Não pretendemos fazer sátiras com assunto que muito nos tem preocupado como médico e como cidadão.
            Trata-se do celibato feminino e da posição da mulher solteira na sociedade. É questão seríssima e muito delicada, que deve merecer de nós todos uma atenção muito especial.
            Esta questão requer muitas medidas para a sua solução. A primeira seria uma campanha educativa para que a mulher tivesse o mesmo respeito, o mesmo carinho, quer fosse casada ou solteira. Mas, o que vemos? Por defeito de educação, o povo ridiculariza sem piedade aquelas que ficaram sem casar. O povo só, não. Espíritos eminentes, escritores de vulto, como Machado de Assis e Jorge Amado, para citar somente um grande nome do passado e outro grande nome do presente, satirizam as mulheres que se convencionou chamar de – Solteironas. Apelidos grosseiros e impiedosos estigmatizam-nas, como se casar fosse o único destino da mulher, e como se elas tivessem a culpa inteira de não cumprirem esse destino.
            Quantas delas amaram, quantas delas entregaram seus cândidos corações, quantas delas não depositaram em um homem sua esperança e seu afeto, e o homem objeto de sua afeição ou as repeliram, ou as enganaram, ou (o que é peor[1]) nunca adivinharam que eram por elas amado?
            A educação, o costume, e nossa civilização impedem ainda que a mulher declare seu amor a um homem, e teremos ainda dois séculos, caso isso seja permitido, mas por enquanto a mulher que tiver a audácia de declarar seu amor a um homem será lapidada[2] e a primeira pedra será atirada por aquele que receber a declaração de amor...
            Quantos casamentos não geraram por esta causa? Muitas vezes dois entes se amam em segredo, e passam pela vida, afastados, como dois indiferentes, porque ignoram o sentimento um do outro, e têm medo ou timidez de provocar uma expansão que poderá ser uma alegria inaudita, mas que poderá ser também uma desilusão amaríssima[3]...  É o dilema cruel do apaixonado: “Devo declarar meu amor? Serei aceito, ou repelido?”. E enquanto hesita, outro mais audacioso adianta-se e obtem a posse daquela que o tímido ama. E a ironia do destino é pungente[4] quando a jovem preferiria aquele que a desejava, mas não se declarou, e aceitou o segundo porque pensou que o primeiro não se declarara, porque não a amava... Isto como os homens avaliem-se com as mulheres que não têm o “direito” de declaração amorosa.
            Esta iniciativa na escolha, explica a porcentagem maior de celibato feminino. Daí também deriva a fatuidade[5] de muitos homens (a maioria) que se julgam por esse motivo, superior, infinitamente superior à mulher, seu soberano, seu senhor. A situação da mulher melhorou muito, se cotejarmos a atual com a do passado, mas ainda não está no nível em que deveria estar. E se obtiveram a atual posição foi à custa de sacrifícios ingentes[6], lutas tremendas, combates épicos contra a tacanhez, a mesquinharia, o despotismo dos que veem na mulher apenas um instrumento de prazer ou u´a máquina de trabalhar e procrear[7]. Hoje mesmo, que a evolução é grande, vemos, a cada passo, os sofrimentos, os martírios que sofrem as que procuram avançar mais um passo na trilha arduamente percorrida.
            Vemos mesmo na sociedade o paradoxo infame de se tolerar a adúltera casada, repelir formalmente a pecadora que não se case e ridicularizar ferozmente a celibatária!
Confiamos plenamente no alto espírito do exmo. Sr. Getulio Vargas e no coração generoso de sua digníssima esposa Sra. Darcy Vargas para que a mulher seja amparada como mulher-mãe, mulher-esposa, mulher-filha, mas, sobretudo como MULHER.   
            Parta de nosso Brasil, que tem uma legislação social das mais adiantadas e dignas do mundo, a campanha pela mulher.
            Amparemos e defendamos a família, mas também não lapidemos com o nosso desprezo as que amam sem o amparo da lei. Não defendemos o amor livre. Desejamos apenas que os pares amorosos que, por motivo de força maior, não puderam passar pela pretoria[8], não sejam tratados como indesejáveis.
            Quanto àquelas que fazem do amor uma profissão, tratar-se-ia de pesquisar todas as causas que levaram essas infelizes à triste condição de gado humano para remove-las, e se adaptar essas esquecidas da sorte, novamente, ao meio social. Aquelas que persistissem em continuar a chafurdar no lodo onde pululam, as vênus tarifadas, seriam passíveis de medidas de profilaxia social.
            As que amam verdadeiramente, as que conhecem a sublimidade do amor, mas que, por causas irremovíveis, não são casadas legalmente com o homem que amam e com o qual cohabitam[9] como se casadas fossem, a essas por que não respeitá-las, por que não lhes oferecer a nossa amizade, e o nosso apoio?
            Nossa esposa e nós, conhecemos uma criatura excepcional – mulher de raras virtudes, jovem, formosa, inteligente e culta, de coração boníssimo e alma aberta a todos os sentimentos generosos, enfim, uma pessôa[10] cujas altas e raras qualidades de espírito, de caráter e de coração só podem inspirar admiração sincera e amizade leal. E essa pessôa[11] admirável, amiga certa de todos os momentos incertos, por motivos que se devem respeitar, não tem perfeitamente legalizada sua situação amorosa.
            Felizmente já temos no Brasil cidades como São Paulo e Rio onde essas situações são compreendidas, mercê do alto grau de educação de seus habitantes. Mas vivesse ela em meio pequeno seria uma réproba[12], de todos seria repelida, embora estivesse em plano moral, intelectual e cultural acima de qualquer de seus habitantes. Um verdadeiro absurdo, pois.
            Sempre tivemos a sorte de encontrar mulheres que fazem da vida alguma coisa de grandioso e de belo, estando à frente dessas, nossa esposa e nossa mãe, cujo casamento foram 37 anos de ventura que só a morte desmanchou. Por isto somos defensores acérrimos de todas as mulheres e nos revoltamos contra a situação que cerca ainda hoje a mulher que não se casa.
            Que culpa têm elas disso? Nenhuma. Queriam, por acaso, que elas pegassem no primeiro que passasse e o levassem ao juiz de casamentos? Isto não é permitido pelo uso, e mesmo que fosse não seria aconselhável, porque a um mau casamento, é mil vezes preferível não casar.
Por que motivo o solteirão, que não deixa de ser um entre pernicioso à sociedade, porquanto sua fisiologia o impele à ignomínia do amor vendido, não é traçado[13] ou siquer[14] censurado, enquanto procura-se cobrir de ridícula aquela que não se casou? É uma injustiça que vemos a obrigação de sanar, favorecendo o casamento e respeitando aquelas que não puderam ou não quizeram[15] casar-se.
            Para esse auxílio ao casamento, várias providências seriam louváveis, como a preferência dos casados nos empregos públicos ou particulares, descontos em impostos e taxas, em meio de locomoção, etc., enfim, regalias econômicas que facilitassem e favorecessem o matrimônio.
            Para finalizar, desejaríamos dar às mulheres, sobretudo àquelas que moram em cidades pequenas, onde o padrão de ganho é pequeno, alguns conselhos. Nada de “grã-finismos”[16] nem luxos exagerados. A elegância e a beleza podem estar presentes sem que sejam necessários luxos nem exageros. As “grã-finas”, nessas cidades pequenas (que são 85% das cidades brasileiras), podem ter namorados, “flirts”[17], etc.. Mas na hora de pensar em casamento, na época atormentada e aflita que o mundo está passando, o rapaz que deseja se casar pergunta logo a si próprio se poderá sustentar o luxo e o “grã-finismo” que a senhorita ostenta, muitas vezes com sacrifícios heróicos das bolsas dos papais. Estes, que muito humanamente desejam o matrimônio de suas descendentes, não medem despesa quando se trata de qualquer luxo, que na sua opinião e da própria filha (opinião, a nosso ver errada), venha a facilitar um casamento. Mas é um erro, porque a ostentação do luxo nada mais faz do que afastar o rapaz. Eis aí a razão porque vemos mulheres formosas e amigas do luxo ainda solteiras, não obstante terem tido tempo de sobra de ter casado (como logicamente desejavam), enquanto outras menos formosas e menos encantadoras acham logo casamento.
            Se alguem precisar de algum esclarecimento nosso a respeito das razões que aqui debatemos, com a superficialidade que o minguado espaço de um jornal permite, estamos dispostos a atendê-lo por carta ou pessoalmente. O campo é vastíssimo e fascinante, mas a prosa já vai muito longa...

Posfácio

Uma homenagem singela aos bons e velhos tempos dos idos de 1940, quando critérios e valores morais e éticos eram diferentes, e às vezes injustos e ultrajantes, como no caso das “solteironas”, nesta crônica inteligente, ricamente argumentada e até mesmo com um pé à frente no tempo, ao encarar esta particularidade anacrônica que existia na época.
O enfoque do digníssimo médico Dr. Jorge Washington de Olivaes foi de um arrojo e de uma visão futurística acerca dos Direitos Fundamentais da Pessoa e em especial dos Direitos da Mulher...

Dr. Jorge foi médico em nossa cidade durante alguns anos, pelo menos de 1937 em diante. O seu registro no Conselho Regional de Medicina, foi o de CRM-BA 3989. Em 1945 foi prefeito nomeado na cidade de Irapuã, estado de São Paulo. Foi redator no jornal “O Oeste Paulista” de 18 de abril de 1937 a 5 de junho de 1938. Foi um dos fundadores do famoso “Nosso Clube” de Santo Anastácio, um clube de entretenimento e de danças, onde a sociedade desenvolvia os seus dotes dançantes e propiciava encontros de jovens, onde muitas moçoilas encontraram o seu príncipe encantado. Fez parte da primeira diretoria do Nosso Clube, sendo seu 2º secretário.

Parabéns a este senhor, que certamente entre nós não se encontra, mas que nos corações de seus familiares sempre lembrado será, e se por acaso, algum descendente aparecer, muito feliz ficaria pelo pronto contato com este que vos escreve...

José Carlos Ramires
jc_ramires@yahoo.com.br

Santo Anastácio, 13 de dezembro de 2011, com 20.196 dias da data da publicação desta crônica no jornal “O Oeste Paulista”, no dia 23 de março de 1940, no 9º ano de fundação – edição 453, ano X.


[1] Na ortografia atual, pior...
[2] Que se apedrejou, maltratou...
[3] Extremamente amarga; amarguíssima...
[4] Que afeta e/ou impressiona profundamente o ânimo, os sentimentos, as paixões; muito comovente

[5] presunção, vaidade
[6] muito grande, enorme, desmedido
[7] Hoje o correto seria “procriar”
[8] Cargo que administra a justiça na jurisdição (neste contexto querendo se referir ao Cartório de Paz, que na época registravam os casamentos civis).
[9] Hoje se escreve: coabitam
[10] Pela ortografia atual, escreve-se: pessoa.
[11] Idem
[12] que ou aquele que foi banido da sociedade; malvado, detestado, infame
[13] Notificado
[14] O correto hoje: se quer
[15] Na ortografia atual: quiseram
[16] Qualidade de quem vive uma vida de luxo.
[17] Flerte – relação amorosa leve e inconsequente.

sábado, 3 de dezembro de 2011

A inglória saga de Marcos Mariano da Silva...


Um “da” que decidiu o curso de uma Vida...

José Carlos Ramires
Colaborador
30/11/2011

O Mecânico Marcos Mariano da Silva, um pernambucano sofredor... Um injustiçado, condenado pela Justiça, sem ter tido culpa de nada... Tudo por causa de um “da”...

Em 1979 Marcos Mariano da Silva é preso por suposto assassinato. Foi preso e encaminhado ao presídio Aníbal Bruno em Recife, PE. Ficou seis anos preso, sem ser julgado e somente solto depois da prisão do verdadeiro assassino, também Marcos Mariano, porém, sem a partícula “da”, somente Marcos Mariano Silva. Duas letras separaram os dois Marcos Marianos: da Silva, preso injustamente e o verdadeiro, o Silva, preso depois... Esta é a nossa Justiça e nosso Sistema Carcerário, onde os pré-julgamentos e preconceitos são muito mais valorados.
Marcos Mariano da Silva, como homem íntegro e de bom coração, aceita as desculpas da Justiça, e em 1985 é libertado. Segue sua vida, depois de muito perder... E não exigiu reparação... Comprou a prazo um caminhão usado e passou a transportar fumo em Arapiraca, estado das Alagoas. Trabalhou algum tempo tentando se restabelecer nos negócios.
Por uma dessas ironias do destino, a Polícia Rodoviária Alagoana, em uma operação de controle de tráfego, ele é parado, detido, avaliado, pesquisado, e depois de três anos... preso! Novamente preso e enviado de volta ao presídio Albano Franco em Recife. Motivo, uma ordem de prisão emitida pelo presídio por infringir uma “suposta liberdade condicional”, quando na verdade, nem detento era, uma vez que nem julgado fora. Foi somente liberado, porque o verdadeiro Marcos Mariano, o Silva, foi preso como réu confesso de assassinato. Mais um erro, agora triplo: da Polícia Rodoviária, do Sistema Prisional e da própria Justiça, que insiste em não ser precisa em suas avaliações e conclusões, seguindo simplesmente a fria escrita da lei, não pensando, e não se importando em nada e nem pedindo uma reavaliação de um caso, que da primeira vez teve até desculpa do Governo de Pernambuco. Mas disto nada importa. Importa mais, a letra fria da lei, para os mais pobres, os simples e menos expertos. E para os mais ricos e mais expertos, melhores advogados, e melhores beneplácitos da lei... Parece-nos que a Lei não seja cega nestes casos, e faça até alguma distinção de raça e de condição econômica...
Da Silva passou mais de 13 anos detido, tentando explicar o inexplicável. E de provar o impossível. De que Marcos Mariano da Silva não era o Marcos Mariano Silva, o verdadeiro. E os nomes das mães não importam? As datas de nascimento não importam? Os documentos de identidade não importam? Os números de CPF não importam? Que tipo de identificação se usa nestes documentos da Justiça? E nos processos? Não existem fotos? Como é que se pode provar algo que não se tem com que provar? 
Um ano e oito meses após a segunda prisão, da Silva, durante uma rebelião no presídio, foi atingido por estilhaços de bombas de efeito moral e ficou cego. O efeito moral transforma-se em efeito físico que o conduz a uma escuridão ainda mais tenebrosa, pois que agora, um detento, presumidamente tornado assassino, torna-se um cego, mas que nunca cego de ódio se tornou. Aguentou todas as agruras da vida carcerária, até que num dia qualquer de 1998, seu caso foi detectado durante um mutirão judicial de reavaliação de processos, identificando-se assim uma das maiores e mais contundentes iniqüidades. Um dos maiores erros judiciais jamais cometidos neste Brasil. Nunca neste Brasil houve tão grande injustiça... E se não fosse este Mutirão? Quantos mutirões hão de se fazer para sanar injustiças como esta? Mutirões de Limpeza para eliminação dos políticos Fichas-Sujas. Mutirões de melhoria no ensino. Mutirões na Saúde. Varrições de Limpeza no Congresso Nacional, em suas duas Casas, cujos membros se acham proprietários e dela fazem o que querem e as conspurcam... Um Mutirão de Cidadania deve ser prevalecido, diante de toda e qualquer iniquidade, seja de que tipo for...

Já em liberdade, Da Silva decide cobrar na Justiça a devida reparação no valor de seis milhões de reais. Em 2003 ganha em primeira instância, ficando, porém a indenização, fixada em R$356.000,00. Recorreu da sentença. O Estado também...
Em 2005 o Tribunal de Justiça Estadual (PE) manteve a decisão e aumentou a indenização para R$2.000.000,00 (dois milhões de reais). O governo do estado voltou a recorrer. Mas em 03 de maio de 2006 o Governo de Pernambuco sanciona uma lei que lhe concede o direito de receber uma pensão mensal no valor de R$1.200,00, até que o Superior Tribunal de Justiça de Pernambuco defina o valor.
Em 2009 recebe 3,7 milhões do estado, de cujo montante boa parte foi distribuída entre os familiares. O restante do valor que ficou para discussão, diz referência a um valor de dois milhões, relativos a encargos e juros desde a primeira decisão até o dia em que sair o resultado da demanda do recurso, que aconteceu no dia 22 de novembro próximo passado.
Neste mesmo dia, recebe a notícia por telefone e comunica à sua esposa. Depois de uma conversa rápida, diz que vai deitar um pouco para descansar... Daí em diante não mais acorda e entra em descanso eterno, no eterno sono dos justos, junto aos mais eleitos e num lugar mais elevado e mais espiritualizado...

Da Silva não ficou nem mais e nem menos feliz, ficou em Paz... Já quanto aos culpados, uma Justiça maior decidirá... Quem tem Fé, acredita. Quem não a tem, duvida e não acredita... E quem assim pensa, também Esperança não tem... E sem Esperança não há plenitude no viver e fica toda a vida, sem viver...

E o Marcos Mariano Da Silva, como Mariano, de Maria nossa Santa Mãe, junto a Deus encontrará seu cantinho especial no infinito espaço Cósmico da morada divina. E com o “Da”, com D já maiúsculo, ficará para sempre marcado nos anais da história e em nossas mentes... O Da Silva, condenado em lugar do Silva, o verdadeiro...