domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ouvir os Filhos... Uma Reflexão


Carlos Drumond de Andrade nos ensinou que - ”As terríveis notícias dos jornais de ontem nos deixam hoje, temerosos de ler as notícias do jornal de amanhã”. Os jornais da semana trouxeram uma notícia terrível que talvez tenha passado despercebida por muitos. Trata-se da notícia de um policial reformado, Tenente Coronel da Polícia Militar que, durante a elucidação de um caso policial no Bairro da Tijuca (RJ), se vê obrigado a prender o próprio filho, um marginal que participava de uma quadrilha de assaltantes. Logo ele, o valoroso soldado que iria receber nos próximos dias uma comenda pelos relevantes e heróicos serviços prestados em prol da população. O policial desolado teria dito que: “se meu filho quer ser bandido que assuma as conseqüências; já é o suficiente ter sujado meu nome honrado, por isso eu mesmo o prendo”. Ele não sabia das sinuosas investidas do próprio filho nas sombrias e tenebrosas veredas da criminalidade.

Pergunta-se: o policial é o único exemplo deste triste episódio? Claro que não. Infelizmente centenas de outros pais, por certo, passaram ou passam pelo mesmo problema, o desconhecimento do que seus filhos ou filhas estão fazendo, ou mesmo onde estão. Muitos argumentarão com boa dose de razão, que talvez o mundo moderno, com suas mazelas, suas fantásticas exigências e pressões sociais, suas necessidades cada vez maiores de manutenção de um status, mesmo que para isso tenha de se pagar um preço exorbitante, o elevado custo do conforto, tornam quase impossível a presença física dos pais no dia a dia da família. E nesse quadro, convém lembrar o papel de verdadeira heroína reservado à grande maioria das mães, que se sente forçada a deixar os filhos menores em creches, com babás ou escolas maternais, trabalhar fora e, ao retornar, exercer com grande estoicismo as atividades maternas e de dona de casa. Quanto aos filhos, estes, cada vez mais, se ressentem da presença física e afetiva dos pais.

Outro aspecto a ser considerado é o fato de que os filhos entram na escola cada vez mais precocemente, justamente para compensar a ausência dos pais, trazendo como conseqüências, entre outras, as seguintes mazelas:

- Por freqüentarem a escola em idade tão tenra (dois ou três anos de idade), percebe-se que quando estiverem em idade de prestar o vestibular já se encontram cansados e com fastio das atividades escolares.

- Ao contrário do que acontecia em décadas anteriores, quando os filhos ficavam mais tempo em casa e, por isso mesmo, sob à influência quase exclusiva dos familiares, atualmente os filhos sofrem a influência de vários outros segmentos da sociedade, numa idade em que ainda não consolidaram sua formação familiar.

A dinâmica social tem evoluído nestas últimas décadas conduzindo a uma nova sociedade - a sociedade do conhecimento. Nela, priorizam-se as necessidades, interesses, estilos, consumo e ritmo galopante do conhecimento e da aprendizagem. O conhecimento passa a ser mediado pela tecnologia, via de múltiplos recursos, com destaque para a internet. Neste contexto, torna-se cada vez mais importante a boa formação do ser humano para se inserir adequadamente neste novo modus vivendi. No âmbito escolar, a educação tem como objetivo dar oportunidade à democratização e transformação do ser humano, e é uma tarefa hercúlea de vários núcleos sociais, como a família, a comunidade, escola e professor. Nesse cenário, o filho mal formado, sofrendo toda sorte de influência, pode desenvolver práticas de comportamento que chegam às raias do absurdo, como o nefasto e covarde bullying ( do inglês bully = valentão), que é descrito por psicólogos como atos de violência física e/ou psicológica intencionais e repetidos contra um único indivíduo ou um grupo muito menor, inferiorizado e com grande conotação discriminatória. Os agressores se utilizam de comportamento caracterizado por agressividade desproporcional com a situação, desequilíbrio de forças entre eles e as vítimas, e poder exacerbado. Como conseqüência, leva a vítima a uma baixa auto-estima, queda no rendimento escolar, isolamento e depressão. A média destes episódios no mundo, conforme estudo é de 5 a 15%. No Brasil chegam a 49%. Copiamos dos países estrangeiros alguns hábitos e costumes perniciosos, todavia deixamos de imitá-los em práticas de cidadania como os de não jogar lixo nas vias públicas e de respeito ao próximo. E não citamos ainda os casos de verdadeiras aberrações que ocorrem por ocasião do trote de calouros, em que estes são obrigados a ingerir metanol, entre outras práticas malévolas, decorrentes que são da insanidade humana.

Pais que sofrem por descobrirem filhos marginais. Pais que sofrem por não saberem que seus filhos se reúnem em gangues para praticar bullying. Pais que sofrem porque seus filhos são agredidos nas escolas. Pais que sofrem porque seus filhos apresentam baixo rendimento escolar e falta de motivação para a vida, de tal sorte que todos estão no mesmo barco. A solução, provavelmente esteja na conscientização de pais, de professores, escola e governantes, de que a educação tem um papel realmente preponderante na construção de uma sociedade mais justa, mais harmônica e mais perfeita. Por isso vale a pena refletir sobre uma pergunta, que foi vencedora de um concurso sobre o meio ambiente:

“Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta
melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos
melhores para o nosso planeta?"

José Giometti

09/fev/2010

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