domingo, 21 de fevereiro de 2010

O ALEGRE FIM DE MULTICARPO NARRUDA… UMA FÁBULA SEM TEMPO...

Era uma vez um país, pequeno, insulado e sem acesso ao mar e, portanto, cercado de terra por todos os lados. Na verdade uma cidade-estado.

Tal cidade-estado tinha uma prerrogativa especial e vivia dos rendimentos de funcionários governamentais muito bem pagos e com verbas generosas. Ali tudo estava centralizado e tudo acontecia. O poder era forte, com poder ao lado de poderes...

Mas, algo estava acontecendo e poucos tinham conhecimento. De repente explode um escândalo inimaginável. Altos funcionários e outros legisladores desta cidade-estado aparecem na mídia recebendo propinas e pacotes e mais pacotes de notas são enfiados em bolsos, bolsas, em meias e em todo esconderijo corporal disponível para tal uso.

Uma indignação generalizada acontece em todos os recantos e cantos e até nos países limítrofes, que tinham muita afinidade com esta cidade-estado. Várias entidades governamentais e não-governamentais, juristas, associações de advogados, tribunais de todos os tipos, emitem seus pareceres, opiniões e suas indignações e preocupações.

Imaginem um país onde o seu governante corrupto tenha que ter aprovação de sua casa legislativa para ser expulso do governo e onde a maioria de seus legisladores faz parte de todo o esquema e está comprometida com toda esta mixórdia suja e corrupta. Não há como se aprovar o impedimento e a continuidade de governabilidade. Há que se tomar providências através de esferas jurídicas de alto escalão. E assim, dá-se um basta em toda esta verdadeira porcaria administrativa...

Chega ao fim, afinal enfim, o triste e politraumático desastre deste governo, desgovernado que foi pelo sinistro e narigudo Narruda, o chefe destemido de uma gangue de neopolíticos, adeptos de uma sinistra e malévola teoria governativa daquilo que se insinuava como sendo a mais insinuante e convidativa seita dos Uomini Polutus Corruptivus Imputavicus Per Semper Est, ou seja, a nova crença também conhecida como “Político Corrupto para Sempre Imputável Será.” Aquele que acredita na máxima de que, político governante, deputado ou senador, dificilmente punido será, não havendo pena definitiva e concreta que o desestimulasse de sua sempre malévola fúria contra o erário público, acreditando que, aquilo que é público, e se é do povo, ele sendo povo, pode muito fazer o que quiser... Assim estes senhores pensam e pensavam...

Como contraponto a esta ignomínia estória, contaremos a do valente funcionário público de Lima Barreto em sua obra “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Este senhor, Policarpo Quaresma, funcionário do Arsenal de Guerra, um nacionalista ferrenho, visionário e sonhador, que queria, por tudo e por todos, que a língua oficial do Brasil devesse ser aquela nativa dos índios Tupis. Como Patriota que era, tudo para ele no Brasil era melhor e maior... Suas manias patrióticas o levam a um fanatismo tal, que todos o tratam como um lunático, motivo de chacotas, escárnio e ironia.

Em determinado momento, envia um ofício ao Ministro da Guerra, em tupi, e por isto é suspenso de suas atividades e, por suas manias, é internado em um hospício e depois aposentado por invalidez.

Desgostoso com tudo e com todos, compra um sítio, ao qual deu o nome de Sossego, onde passa a viver da renda agrícola. Estuda e compra todo material para o trato da terra. Como era um homem íntegro, honesto e impoluto, três terríveis inimigos destruíram o seu projeto: a perseguição política por não compactuar com a corrupção local, sendo, a todo oportuno momento, indevidamente multado em suas atividades agrícolas e comerciais; deficiente estrutura agrária, sem suporte, planejamento e estrutura governamental de apoio que o impede de vender uma boa safra, e o terceiro e último dos inimigos, a voracidade dos imbatíveis exércitos de insaciáveis saúvas que devoravam sua lavoura e suas reservas de feijão e milho. Desanimado com a preferência dada pelo governo aos barões e latifundiários do café, estende sua dor à pobre população rural, pela falta de prioridade governamental a estes pequenos produtores.

Para Policarpo Quaresma, era necessário uma nova administração e o lançamento de um novo projeto para o Brasil, na área agrícola, e assim escreve e divulga este projeto. Mas, em 1883-1884 eclode a Revolta da Armada (Marinha do Brasil) na cidade do Rio, e Policarpo ingressa no exército republicano em defesa da estabilidade da incipiente primeira república do Brasil. Torna-se comandante de um destacamento de artilharia. Durante uma visita do Marechal de Ferro, Floriano Peixoto, este deixa transparecer o seu conhecimento sobre o Projeto Agrícola do comandante Policarpo Quaresma. Neste encontro, diante da exaltação extremada do seu comandado, o presidente Floriano responde: “Você Quaresma, é um visionário e um sonhador. Não tem mais jeito mesmo.”

Após quatro meses de revolta a Marinha ainda resiste, e Policarpo acaba ferido e, após sete meses de batalha é transferido e designado carcereiro da Prisão da Ilha das Enxadas, onde os marinheiros insurgentes foram aprisionados.

Durante uma madrugada, Policarpo é visitado por um emissário do governo, que escolhe aleatoriamente doze marinheiros e são levados pela escolta armada para serem fuzilados por alta traição. Indignado, Policarpo Quaresma escreve a Floriano, denunciando esse tipo de atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras. Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação, Ricardo Coração dos Outros, um de seus amigos, busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, por temerem a perda de seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue... A morte será o triste fim de Policarpo Quaresma...

Neste pequeno conto temos a saga de um brasileiro, valente como um herói sem causa, destemido como todo e qualquer outro brasileiro, que luta com dignidade, honradez e nem sempre lembrado pelos pseudos-poderosos políticos, e que sem saber são perseguidos pelo destino, sem uma chance, nesta longa e injusta batalha diária pela vida e pela sobrevivência.

Como contraponto oposto deste anti-herói brasileiro, o Policarpo Quaresma, temos o destemido Multicarpo Narruda, que como chefe de uma quadrilha de bandoleiros de colarinho branco, vilipendia, espolia e exaure o erário público em benefício próprio e de seus apaniguados.

Alegre o momento em que maus e péssimos políticos começam a ser desmascarados. Alegre o momento em que um dirigente é preso por obstruir a investigação policial. Alegre o momento em que renasce mais uma vez a esperança do povo na aplicação da justiça para todo cidadão, sem distinção de raça, credo, preferências políticas, e de outras diferenças existentes, e sempre na aplicação do princípio maior da Constituição Brasileira de que todos são iguais perante a lei... Mas, será que todos são iguais perante a Lei?

Mesmo por que, até onde sabemos, ainda existem alguns que são diferentes... E vocês sabem quem são estas pessoas diferentes?

Meditem e pensem... Quem são os diferentes? ... Tiremos os privilégios destes diferentes! Com a palavra os juristas e legisladores...

José Carlos Ramires

17/02/2010

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